O Itaú deu outra grande tacada no apagar das luzes de 2008. Fechou a compra de uma participação de 425% que os antigos sócios do BBA Creditanstalt ainda tinham no Banco Itaú BBA e passou a ser 100% dono do banco de atacado. O valor do negócio não foi revelado mas a compra foi paga em dinheiro.

“Prefiro não dizer o valor. Foi um múltiplo compatível com o avaliado na negociação original em 2002” explicou Cândido Bracher presidente do Itaú BBA e membro do novo conselho de administração do Itaú Unibanco. O banco Itaú adquiriu 9575% do BBA em novembro de 2002. Na ocasião pagou R$ 33 bilhões parte em dinheiro e parte em ações da instituição. Um analista calcula que o valor da venda dos 425% fechada nos últimos dias de dezembro seja superior a R$ 200 milhões .

Um acordo de acionistas assinado há seis anos permitia que mesmo com menos de 5% do capital total os cerca de 40 sócios do antigo BBA mantivessem o controle compartilhado do Itaú BBA graças a uma estrutura com duas holdings. O Itaú BBA tinha 50% de seu capital votante controlado por uma empresa de participações que por sua vez tinha 51% de suas ações ordinárias nas mãos de uma segunda empresa apelidada de HE (holding dos executivos) com dois terços de ações preferenciais e um terço de ordinárias. Os outros 49% estavam nas mãos do Itaú.

De acordo com Bracher o controle compartilhado foi mantido mesmo após a venda dos 425%. “Mantivemos o acordo por meio de uma golden share” disse Bracher ressaltando que estão preservados os mesmos direitos e deveres do acordo original e que por ora foram mantidos nessa negociação os mesmos 40 sócios. A lista inclui Jean Marc Etlin e Fernão Bracher pai de Cândido e um dos fundadores do BBA. A “golden share” é uma ação com direitos especiais e foi bastante utilizada pelo governo no processo de privatizações para garantir à União direitos como veto a mudanças de controle ou de objeto social.

O controle compartilhado no Itaú BBA é considerado por especialistas como o “pulo do gato“ do Itaú. Ao manter a autonomia do antigo BBA inclusive com a separação física da equipe a instituição controlada pelas famílias Setubal e Villela evitou que a tradicional cultura de varejo do Itaú contaminasse a estrutura de atacado do BBA e abriu vantagem nesse segmento em relação ao seu principal concorrente o Bradesco.

A venda agora dos 425% segundo Cândido Bracher foi feita para facilitar negociações internas especialmente em processos de aquisição realizados pelo Itaú. “Sempre que havia um movimento como a fusão com o Unibanco era necessário discutir quanto disso iria para o Itaú BBA por conta do controle econômico diferente entre as duas instituições. Agora não. é tudo do Itaú. Isso simplifica as negociações internas e é bom para o Itaú e para os sócios.”

Outro motivo que levou à venda da participação segundo o Valor apurou é o fato de que a estrutura anterior do Itaú BBA dificultava a união com a área de atacado do Unibanco e até mesmo da Itaú Corretora uma idéia que chegou a ser cogitada. A relação entre os executivos era prejudicada por conta da participação acionária que os 40 sócios originais tinham no Itaú BBA.

Procurado o Itaú Unibanco preferiu não se manifestar. Pela legislação a instituição não está obrigada a divulgar fato relevante porque a participação dos executivos do antigo BBA era inferior a 5%.

Embora o valor do negócio não tenha sido divulgado um analista fez a pedido do Valor cálculos de quanto poderia valer essa participação. Nos resultados do terceiro trimestre o Itaú divulgou que o retorno anualizado do banco de atacado era de 193% do capital alocado. “Grosso modo esse capital pode ser considerado o patrimônio. Os 425% representariam portanto R$ 709 milhões. Se a negociação saiu por três vezes o valor patrimonial é possível dizer que o bloco de ações valeria R$ 2127 milhões” explica. Ele também lembra que em 2002 o Itaú pagou 18 vez o valor patrimonial. Pelo preço da época os 425% teriam custado R$ 14648 milhões. Esse valor atualizado pelo IPCA do período seria em dezembro do ano passado de R$ 2185 milhões. Se fosse atualizado pelo IGP-M alcançaria R$ 24289 milhões.

No ano passado o Itaú BBA foi considerado o banco nacional que mais realizou operações de crédito atreladas a derivativos de câmbio nos mesmos moldes daquelas que geraram prejuízos à Sadia e à Aracruz. A instituição é por exemplo uma das 12 credoras da Aracruz empresa que perdeu US$ 21 bilhões com instrumentos como “target forward”. Apesar disso o analista acredita que o Itaú BBA não deverá apresentar um volume de provisões elevado no quarto trimestre. Segundo ele o banco teria engatilhado diversas renegociações de dívida com seus clientes.

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