O déficit em conta corrente seguiu em trajetória de aceleração em fevereiro somando US$ 2090 bilhões ante um superávit de US$ 376 milhões no mesmo mês do ano passado. Foi o quinto resultado mensal negativo o que levou o Banco Central a subir de US$ 35 bilhões para US$ 12 bilhões sua projeção para o déficit em conta corrente deste ano cifra que equivale a 086% do Produto Interno Bruto (PIB).

O saldo negativo acumulado até agora já chega muito perto do valor projetado pelo BC para o ano. No primeiro bimestre o déficit somou US$ 6322 bilhões. Em março a estimativa do BC é mais um número negativo – US$ 3 bilhões – que caso se confirme elevará o déficit em conta corrente acumulado no ano para US$ 9322 bilhões.

Em janeiro o país teve o primeiro déficit acumulado em 12 meses desde 2003 com US $ 2402 bilhões. Esse déficit medido na mesma base de comparação subiu para US$ 4868 bilhões em fevereiro e deve chegar a US$ 8133 bilhões em março caso se confirme a projeção do BC de um resultado negativo de US$ 3 bilhões neste mês.

No BC o déficit em conta corrente é visto como reflexo natural do maior aquecimento da economia e da valorização da taxa de câmbio. Não seria possível no entendimento da autoridade monetária o país registrar a extraordinária expansão dos investimentos públicos e privados que vem sendo observada e ao mesmo tempo ampliar aceleradamente o consumo das famílias e do próprio governo. Para as contas fecharem é necessário recorrer a financiamento externo.

O déficit de 086% do PIB é para o BC a melhor projeção para as contas correntes em 2008. Mas a autoridade monetária não se arrisca a fazer projeções definitivas sobre a evolução do indicador nos próximos anos. Não está descartada a hipótese de em período de alguns meses de um ano ou de uma década o país vir a exibir déficits em conta corrente como o da Austrália (56% do PIB) Hungria (59%) e Turquia (77%). O tamanho do déficit na visão do BC depende da disposição dos investidores estrangeiros em financiar o país – e está fora do alcance da autoridade monetária tentar controlá-lo.

A política monetária para o BC deve estar unicamente voltada a controlar a inflação sem objetivos paralelos como conter a valorização do câmbio. A redução do déficit em conta corrente dependeria do uso de um outro instrumento de política economia como a política fiscal. A aposta do BC é que depois da aceleração deste início do ano o déficit em conta corrente se acomode nos meses seguintes. é o que de certa forma está contemplado na projeções do mercado financeiro que espera um déficit de US$ 975 bilhões em 2008 segundo pesquisa de expectativas do BC.

O chefe do Departamento Econômico do BC Altamir Lopes disse que o déficit em conta corrente do início do ano foi contaminado por um desempenho excepcionalmente negativo na balança comercial que não deve se repetir no resto ano. O saldo comercial no primeiro bimestre foi de US$ 1826 bilhão decorrente de um aumento de 24% nas exportações e de 54% nas importações na comparação com idêntico período de 2007.

A projeção do BC para 2008 contempla uma expansão menos intensa nas importações (29%) e nas exportações (13%) o que produziria um saldo de US$ 27 bilhões. “Houve uma concentração de importações no início do ano incluindo petróleo“ disse Lopes. Os cálculos do BC afirmou já levam em consideração a queda recente nos preços das “commodities“ exportadas pelo Brasil.

Outro item que pesou bastante no resultado negativo acumulado até agora foram as fortes remessas de lucros e dividendos que somaram US$ 1293 bilhão em fevereiro e chegaram a US$ 4317 bilhões no bimestre alta de 97% em relação ao mesmo período de 2007. Os dados parciais de março registram até o dia 24 um déficit de US$ 2540 bilhões.

As fortes remessas líquidas ao exterior registradas neste início de ano levaram o BC a aumentar de US$ 20 bilhões para US$ 24 bilhões as saídas líquidas de lucros e dividendos projetadas para 2008. Lopes diz que as saídas de lucros e dividendos são resultado do aumento do estoque de investimentos estrangeiros diretos no país da valorização do câmbio e do aquecimento da economia que aumenta o lucro das empresas.

Fonte: Valor Econômico

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