Debate Sindical – Quando foi o seu primeiro contato com a vida sindical?

Geraldino Cruz – Foi por volta de 1982 com o senhor Pedro Gomes da Silva que me falou de sindicato e da importância da organização do trabalhador para conquistar direitos. Naquela época nós trabalhadores de empreiteiras da área da Cosipa tínhamos poucos direitos. O trabalhador não tinha almoço transporte plano de saúde uniforme. Eram muitos acidentes de trabalho. Comecei a perceber as coisas a conhecer o caminho da democracia o caminho da luta pelos direitos sociais. Foi assim que nasceu a idéia de vir para o sindicato para organizar a luta porque tinha aqui no sindicato um presidente pelego. Eu tinha 26 anos de idade.

Debate Sindical – Como foi o início do seu engajamento na luta dos trabalhadores?

Geraldino Cruz – Eu era empregado da Enesa. E fui o cipeiro mais votado de toda a história da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) das empreiteiras na área da Cosipa. Fui vice-presidente da CIPA da Enesa por duas vezes.

Debate Sindical – O senhor fez uma greve nas empreiteiras da área da Cosipa?

Geraldino Cruz – Sim. Eu já era da diretoria do sindicato. Eu e mais um colega em 1987 paramos as empreiteiras na Cosipa. Reivindicávamos a reposição da inflação que na época era terrível. Sai de canteiro em canteiro e consegui colocar no pátio da empresa numa faixa de 12 mil trabalhadores. Parou todo mundo.

Debate Sindical – E parou?

Geraldino Cruz – Parou todo mundo.

Debate Sindical – Por quanto tempo?

Geraldino Cruz – Paramos por dois dias. Eu senti que a Polícia Militar (PM) e a vigilância da Cosipa queriam me prender. Por dois dias eu consegui driblar isso. Conseguimos o reajuste salarial mas paguei um preço muito caro por isso. A empresa pediu a minha cabeça e me tirou da área da Cosipa. Eu fui expulso. Fui preso. Duas viaturas da PM me levaram. Fui colocado para fora e o sindicato na época me desprezou também porque achou que fui uma pessoa radical.

Debate Sindical – Como você ficou?

Geraldino Cruz – A empresa não me queria dentro da área. Ela continuou a pagar o meu salário mas não me deixou voltar para o trabalho. A empresa considerou que eu era uma ameaça dentro da área da Cosipa. O sofrimento meu foi muito grande. Passei nove anos assim.

Debate Sindical – Como foi o seu retorno?

Geraldino Cruz – Eu juntei um grupo de 14 pessoas mesmo da diretoria do sindicato. E consegui falar individualmente com alguns camaradas que foram muito importantes nessa fase da minha vida. Um foi o Douglas Martins de Souza o José Luiz de Mello (falecido) Marcos Braz de Oliveira Geraldo Correia Luiz Carlos de Andrade Pedro Gomes da Silva Rivaldo Leão e Dorival Sebastião. E esse grupo de pessoas queria lutar por um sindicato melhor. Depois de muita luta conseguimos vir para a executiva do sindicato a partir de 1996. Permaneci por sete anos diretor de Saúde Assistencial. Após esses anos eu assumi a vice-presidência. Houve também uma dissidência do José Carlos Ribeiro que era parte de um grupo também importante do sindicato.

Debate Sindical – Na época em que o senhor estava ainda fora do sindicato e disputava eleições concorriam às vezes mais do que duas chapas. Tinha oposição atuante. Hoje as eleições aqui no sindicato são com chapa única. Por que isso?

Geraldino Cruz – Houve uma mudança do estatuto que dificultou a formação de chapas de oposição. Tem artigo que dificulta e afasta qualquer tipo de oposição.

Debate Sindical – Isso não é ruim?

Geraldino Cruz – é para a democracia.

Debate Sindical – Como você vê o movimento sindical hoje em comparação ao início da sua militância sindical na década de 1980?

Geraldino Cruz – Está muito difícil. O movimento sindical se afastou um pouco do trabalhador. Quando você arrecada do trabalhador contra a vontade dele de uma forma compulsória que é o imposto sindical isso é danoso para os sindicatos. Eu defendo que o trabalhador contribua espontaneamente.

Debate Sindical – O movimento sindical ainda é combativo?

Geraldino Cruz – Sim. Mas tem sindicalista que perdeu contato com a base. Por exemplo o Porto de Santos. Quanto tempo o porto não faz uma grande manifestação com os trabalhadores? Quanto tempo a Cosipa não pára por causa de uma greve? O nosso sindicato tem feito bastante greve. As nossas assembléias estão cheias. Temos dado resposta para o trabalhador. Mas eu tenho visto aí que tem sindicato que virou “sindicato de arrecadação” sindicato de carteirinha. O trabalhador realmente tem se distanciado do sindicato. Espero que isso mude com a legalização das centrais sindicais e com a necessidade de ter 25% da categoria filiado ao sindicato.

Debate Sindical – O senhor não tem medo de fazer greve?

Geraldino Cruz – Não pelo contrário. A função do mecânico é arrumar o motor do carro. A função de um eletricista é levar energia. A função de uma fábrica de automóveis é produzir carro. E a função de um sindicalista é “fabricar” greve. A greve fortalece e engrandece um dirigente sindical. Eu acho que um dirigente sindical que tem medo de greve deve se aposentar e pegar o boné e ir embora. A greve faz parte da luta de um sindicato. A greve tem de ser feita com sabedoria. Tem de fazer tudo direitinho para que o movimento não se arrebente na Justiça. A greve precisa ser justa bem pensada e tem de ser a vontade do trabalhador e não a vontade do dirigente sindical.

Fonte: Porto Gente – Debate Sindical

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