“Não quero aumentar o BNDES mas sem ele não teríamos investimento no Brasil“ disse Mantega em entrevista exclusiva ao Valor lembrando a importância dos bancos públicos para evitar um tombo ainda maior da atividade econômica em 2009 quando o PIB encolheu 03%.

Bem humorado com a vitória do seu Corinthians na Libertadores Mantega afirmou que a oferta de crédito subsidiado pelo BNDES deve permanecer enquanto as instituições financeiras privadas não assumirem o papel de oferecer financiamento de longo prazo. “O setor privado não gosta disso. Mas eu falo para eles: no dia em que vocês estiveram presentes emprestando no longo prazo eu reduzo o BNDES.“

Mantega criticou o que classifica de postura pró-cíclica dos bancos privados de emprestar muito quando a economia cresce com força e de reduzir a oferta de crédito num momento em que a atividade se enfraquece. Segundo ele parte do aumento da inadimplência bancária especialmente no setor de veículos se deve a exageros cometidos por algumas instituições em 2010 o que gerou problemas específicos no segmento. Mantega lembrou que na ocasião o crédito se expandiu a uma taxa de 30%. “O governo não quer euforia quer equilíbrio.“ Foi nesse contexto que no fim de 2010 foram adotadas medidas macroprudenciais (restrição ao crédito) para evitar os exageros.

Mantega afirmou que o problema do setor de automóveis que ele classificou como “bolha“ já está sendo diluído. A inadimplência contudo também piora porque os bancos passaram a adotar uma política mais dura para conceder empréstimos e financiamentos disse. “Quando há uma ameaça de crise de desaceleração o banco usa critérios mais rigorosos corta o crédito e aumenta os juros.“

Para o ministro a incerteza externa tem ofuscado “mudanças qualitativas importantes na economia brasileira“

Segundo o ministro no período de expansão forte do crédito os bancos aprovavam de sete a oito de cada dez consultas por financiamento. Com a desaceleração da atividade e a piora da crise externa a média de aprovação caiu para 25 afirmou ele observando que a relação subiu para 45 a 5. “Eles estão aprovando mais mas vejo que alguns grandes bancos não compareceram“ afirmou Mantega.

De acordo com o ministro Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal deverão continuar mais agressivos no crédito cortando taxas e elevando volumes de empréstimos. Questionado sobre a necessidade de capitalização da Caixa em função das regras de Basileia 3 Mantega disse que será necessária alguma capitalização da instituição sem antecipar detalhes sobre a operação. “No devido momento o governo vai capitalizar a Caixa.“

Mantega também voltou a destacar o efeito negativo da atual crise externa sobre a economia brasileira tão intensa segundo ele como a de 2008/2009. O epicentro agora é na Europa onde as autoridades têm demorado muito para agir. Para dar uma medida da gravidade da situação deu como exemplo a China: “Neste ano se a economia chinesa crescer 8% será muito“ disse ele lembrando que em 2009 o país asiático conseguiu crescer 92%. “Quando a China é atingida é porque o negócio é sério.“

Para o ministro a incerteza externa tem ofuscado “mudanças qualitativas importantes na macroeconomia brasileira“ propiciadas pelo novo mix de política monetária e fiscal. Dois preços relativos fundamentais – os juros e o câmbio – estão em níveis muito mais favoráveis à produção e ao investimento disse Mantega. Quando a situação externa melhorar o país estará em condições muito melhores para competir.

Para dar mais competitividade à indústria Mantega afirmou que o governo deverá estender no terceiro trimestre a medida de desoneração da folha de pagamento para mais setores industriais além dos 15 que deverão entrar no novo regime em agosto. Essa medida que já beneficia quatro segmentos está alinhada à percepção de que na crise é preciso reduzir custos como os de mão de obra.

Segundo o ministro a desoneração não será generalizada por causa do custo que ela representa para o governo. A desoneração do INSS empresarial total custaria R$ 97 bilhões e somente da indústria R$ 25 bilhões. O que já foi feito até aqui representa uma renúncia fiscal de R$ 7 bilhões sem considerar a cobrança de uma alíquota sobre o faturamento que compensa parte da desoneração da folha. “Vamos avançar mas temos de olhar o resultado fiscal.“ A necessidade de reduzir outros custos também está na mira do governo disse Mantega citando as tarifas de energia elétrica.

Segundo o ministro os efeitos dessa “mudança qualitativa na macroeconomia brasileira“ ainda não são visíveis em parte por causa da crise externa e em parte porque é necessário haver uma mudança de mentalidade para que as pessoas se acostumem a níveis de juros muito mais baixos. No Brasil a própria estrutura produtiva está habituada a privilegiar a rentabilidade financeira. “Um claro exemplo disso é que as empresas têm tesouraria porque a rentabilidade financeira quando se tem juros altos é maior do que a produtiva.“

Mantega observou que o investidor está se adaptando à realidade de que a renda financeira é mais baixa porque o risco é baixo. “Se você está num título público sem risco vai ganhar um pouquinho. Isso estimula o investidor a partir para imóveis para o mercado de capitais. Com isso vamos dar uma injeção no mercado capitais nas debêntures no setor produtivo.“ Segundo ele com juros menores do que os que vigoraram por tanto tempo no Brasil haverá de um lado estímulo à produção e ao investimento e de outro incentivo ao consumo especialmente se também houver queda dos spreads bancários.

Para Mantega a queda dos juros brasileiros nos últimos meses é o que estaria por trás da onda de descontentamento de alguns investidores estrangeiros com a economia brasileira. “O Brasil era o último peru de Natal“ disse Mantega citando a imagem seguidamente empregada pelo ex-ministro Antonio Delfim Netto. A alta rentabilidade e o baixo risco da aplicação no país tornavam o espaço de ganho do investidor estrangeiro “uma aberração“ afirmou Mantega. “Aqui era ganhar dinheiro sem risco. Aí de repente tiramos o peru.“

Mantega reiterou que o governo não trabalha com uma taxa de câmbio de equilíbrio mas que enxerga o atual nível mais competitivo do que foi no passado. “Eu disse que câmbio de R$ 2 é melhor do que a R$ 150 não disse mais do que isso“ afirmou. “Não sei qual é o câmbio de equilíbrio. E ninguém joga limpo nessa questão.“

Mantega lembrou que o Brasil continua a adotar medidas para impedir entradas excessivas de capital e não mostrou nenhuma simpatia quanto à remoção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre operações de derivativos reivindicação constante de analistas de mercado. “Vão ter que me convencer muito para tirar esse IOF. é o mercado mais alavancado e nós desmontamos essa alavancagem.“

Mantega ressaltou ainda que não haverá mudança na meta de superávit primário deste ano de 31% do PIB. “ Estamos acima da meta com 36% 37% de superávit primário“ disse chamando atenção para o déficit nominal (que inclui gastos com juros) que deverá melhorar em 2012 ficando segundo ele na casa de 14% do PIB abaixo dos 25% do PIB do ano passado.

Fonte: Valor Econômico

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