Entidades com forte ligação partidária como a Central única dos Trabalhadores (CUT) com o PT e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) com o PC do B servem como polo para sindicatos liderados por correntes desses partidos. Outras como a União Geral dos Trabalhadores (UGT) são atraentes para sindicalistas que divergem do apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva – a UGT foi a única das seis centrais que não participou da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) promovida no 1º de junho em São Paulo alegando temer “ato político pró-Dilma“ em referência a candidata do PT à Presidência.

Ao mesmo tempo há a ação das centrais para engordar suas bases. Ações pacíficas como o diálogo e o convencimento de sindicatos independentes convivem com atitudes agressivas de cooptação financeira daqueles que pertencem a outras centrais. Há entrega de presentes como TVs computadores e móveis e promessas de poder.

é o caso do sindicato dos motoboys da Baixada Santista que representa cerca de 20 mil motoqueiros. Dirigentes de três centrais afirmaram ao Valor que o sindicato foi alvo de presentes das entidades – nos últimos 12 meses o sindicato mudou de central três vezes. Durante as trocas a sede do sindicato chegou a receber TVs computadores e móveis. Em setembro do ano passado o sindicato fez sua última troca: da UGT para a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST). Paulo César Barbosa o Paulão presidente do sindicato afirmou à reportagem que os presentes não são perfeitos. “Ganhamos três computadores já. Um era novo mas outro era usado e o último veio quebrado“ disse Paulão que reclamou também dos móveis. “Os dois móveis que recebi estão mais velhos e gastos que muitos vendidos em brechó“.

Para Paulão a disputa pelo sindicato foi “leve“. “As centrais antes brigavam agora elas compram. Mas o interesse é maior nos sindicatos maiores com mais trabalhadores na base e mais sindicalizados não querem o nosso“ afirma. De acordo com ele os gastos totais do sindicato no ano serão de R$ 30 mil. “Dirigente de central que vem aqui e escuta isso já desiste. Eles querem tubarão grande“ diz.

Segundo Wagner Gomes presidente da CTB a aprovação da lei que instituiu o repasse do imposto sindical às centrais e condicionou o pagamento à representatividade serviu de gatilho. “A partir dali é que começou trabalho de regularização e também de corrida por novos sindicatos“.

Menos comum mas também implementada é a tática de aproveitar brechas na legislação para criar sindicatos. O secretário-geral da Força Sindical João Carlos Gonçalves o Juruna conta que as centrais lutam para manter suas bases sem racha.

De acordo com o artigo 8º da Constituição é vedada a participação de dois ou mais sindicatos para a mesma categoria em um município. “é possível ter um sindicato respondendo pela região de Osasco que conta com alguns municípios. Mas se um grupo se fortalecer em um desses pequenos municípios e constituir um sindicato ele pode porque a lei permite“ explica Juruna. “Explicamos e conversamos muito com as bases para evitar esses rachas“ diz.

Há casos no entanto em que mesmo a lei é subvertida. é o que ocorre com os trabalhadores de atendimento telefônico e telemarketing categoria ainda não regulamentada – o que permite rachas e diferentes interpretações. Em São Paulo os 300 mil trabalhadores da categoria tem dois sindicatos a disposição. O Sintetel ligado a Força Sindical fundado em 1942 representa os funcionários que evoluíram dos antigos ‘Teleatendentes“ da Telesp. O Sintratel fundado 50 anos depois e filiado à CTB representa os operadores de telemarketing.

Em sua maioria o Sintetel representa os atendentes de empresas de telefonia como Vivo Claro e Embratel enquanto o Sintratel responde pelos operadores de empresas de call center que prestam serviço de forma terceirizada a outras companhias. “Mas há casos de operadores com dois trabalhos. Então o sujeito é representado pelo Sintetel num emprego e pelo Sintratel em outro“ diz Marco Aurélio Oliveira presidente do Sintratel.

A disputa entre os dois sindicatos deve chegar aos tribunais. Segundo Almir Munhoz presidente do Sintetel “a atuação do Sintratel confunde e prejudica os trabalhadores servindo apenas à CTB“. Munhoz afirmou ao Valor que o sindicato “vai partir para o confronto juridicamente falando“. Por se tratar de disputa constitucional o caso pode alcançar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Fonte: Valor Econômico

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