Na prática ficará mais difícil para um gerente de agência “empurrar“ produtos que não atendam aos interesses do cliente apenas para cumprir eventuais metas internas de captação de recursos.

Já o investidor terá de assumir por escrito que conhece o risco de um investimento que vá contra o seu perfil que foi alertado pelo banco sobre essa incompatibilidade e que mesmo assim decidiu seguir em frente com a aplicação. A decisão final é do investidor.

A regras foram debatidas internamente na Anbima (associação do mercado de capitais) com o objetivo de preparar bancos gerentes e clientes para lidar com investimentos de maior risco após a queda nos juros e a perda de atratividade dos fundos DI e de renda fixa.

No caminho sofreu resistência de alguns bancos que não queriam discutir questões estratégicas da venda de produtos com os concorrentes nem investir em tecnologia.

“Quando começamos as discussões a ideia era ter um padrão mínimo de qualidade de atendimento. Isso não é estratégia é o mínimo que se pode fazer que é atender bem o cliente. Nos EUA 50% dos investidores aplicam em ações. Aqui no Brasil já chegou a 14% antes da crise. Daqui a um tempo 50% vão para o risco também. A adoção dessa ferramenta é crucial para que isso aconteça“ disse Marcos Villanova diretor de investimentos do Bradesco e coordenador do comitê da Anbima que desenvolveu as regras de adequação.

O principal instrumento para avaliar o perfil do cliente é um questionário eletrônico com perguntas como idade valor da aplicação o quanto ela representa em sua renda anual quando vai resgatar o dinheiro o que pretende fazer com ele e o que faria se perdesse uma boa parte desse capital.

Atribuindo pesos às diferentes respostas o questionário cria o que os bancos chamam de API (Análise do Perfil do Investidor) que é confrontado com os investimentos do cliente no banco para ver se é compatível com seu perfil.

O preenchimento do questionário que costuma ter no máximo dez perguntas é voluntário. Os bancos prometem oferecer as questões sempre que o investidor for aplicar.

Prática comum nos EUA e na Europa a análise do perfil do investidor começou no ano passado no Brasil com os clientes de “private bank“ (gestão de fortunas) dos bancos.

Num primeiro momento a Anbima definiu que a API valerá só para as aplicações nos fundos de investimento. A proposta é chegar também a outros produtos como previdência poupança CDBs e seguros.

Cada banco desenvolveu o seu próprio questionário que poderá ser cruzado com o histórico de aplicações do cliente.

O Bradesco foi o primeiro dos grandes bancos a juntar numa mesma plataforma diferentes aplicações como fundos de investimento CDBs poupança e previdência. A estratégia evita que o cliente seja abordado de acordo com o interesse de venda de cada produto uma vez que a comercialização de um investimento não acontece em prejuízo de outro que poderia ser mais adequado ao cliente.

“Se o perfil apontar que o investidor é muito conservador nós vamos mandá-lo para a poupança“ disse Villanova.

O Itaú Unibanco já adotou voluntariamente o API em setembro. Desde o início incluiu na análise do perfil também fundos de previdência CDBs poupança e até produtos da corretora. ‘Tudo o que é possível para o cliente investir entrou. Todos os produtos de investimento estão sob uma mesma gestão“ disse Oswaldo Nascimento responsável pela área de investimentos do Itaú.

No Santander Real o API já começa valendo para fundos de investimento e de previdência. O banco vai utilizar o questionário e a tecnologia para conhecer melhor o cliente e fazer um atendimento mais personalizado. “[Mas] o comportamento do investidor nos revela mais do apetite real dele do que o questionário“ disse Aquiles Mosca estrategista de investimentos do Santander.

Fonte: Folha de S.Paulo

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