Em meio à comemoração das conquistas manifestas pelo dia internacional da mulher 8 de março o debate a ser aprofundado é sobre a particular funcionalidade da diferenciação entre homem e mulher no modo de acumulação capitalista.

Algumas perguntas serão sugeridas como forma dialógica sobre o tema.

Qual o sentido do trabalho para o capital?

O trabalho para o capital é a fonte geradora de parte expressiva de sua riqueza. é através do trabalho mais bem da apropriação privada do trabalho alheio que o capital avança se reproduz ao longo de seu desenvolvimento histórico.

Assim o trabalho em todas as suas dimensões é quem gera o valor daqueles que no capitalismo possuem suas riquezas materiais.

Sem produção apropriada não há capitalismo. Sua fonte então é a de ao se apropriar do trabalho alheio consumir parte crescente do tempo cotidiano do trabalhador.

E esse é um elemento central. Ao longo do desenvolvimento das forças produtivas o trabalho vai ser moldado em cada época histórica para ampliar sua produtividade sem que com isso melhore todo o contrário a situação de sobrevivência de grande parte dos trabalhadores mundiais.

é o capital quem cria as diferenças de gênero raça-etnia e idade?

Não. Estas diferenciações são anteriores a esse modo de produção e também fazem parte dos processos históricos de cunho diferente do capitalista como as sociedades latinas anteriores à colonização bem como as sociedades orientais.

O que o capital faz é se apropriar destas diferenças como potencial de seu poder de transformar a diversidade em diferença comercial mercantil. Isto significa dizer que o oportunismo do capital provoca para o trabalho distinções que gerarão conflitos na compreensão de classe trabalhadora tamanhas as diferenças de remuneração ocupação dos postos de trabalho e projeção entre trabalho intelectual e manual.

Com a apropriação destas diferenças transformadas em negócios o que o capital provoca é a produção de um poder ainda maior na sua construção ideológico-cultural frente aos sujeitos que possuem somente sua força de trabalho como condição de sobrevivência.

As diferenças se transformam em classificações e potencializam negócios para aqueles que se apropriam privadamente delas. é assim como a divisão entre o trabalho feminino e o masculino; e atrelado à ela o ser homem e o ser mulher ganha no capitalismo mais avançado dimensões importantes tanto para a valorização do capital na produção (com remunerações cada vez menores do trabalho feminino e uma informalidade maior para a mulher) quanto no consumo (políticas de marketing e venda para grupos diferenciados).

Para o consumo a distinção é essencial para caracterizar grupos segmentos indivíduos com a produção de necessidade comportamental de consumir para ser. Isto é muito importante: na sociedade capitalista de produção individualizada fragmentada só é cidadão aquele que mais do que posse tenha o desejo de consumir.

é a consolidação diabólica de transformar em desejo aquilo que não é realmente necessário. Aí entram em cena ao invés das classes e de suas lutas grupos sociais reduzidos a grupos consumidores com formas específicas de consumo com base em diferenciações étnico-raciais de gênero e idade.

Essas diferenciações têm como função concreta dispor de uma sociedade que ao estar escravizada numa ponta (produção) não pode estar livre na outra (consumo).

Por isso para o capital o ser mulher implica e não implica diferenças. Implica diferenças que ao precarizar ainda mais o mundo do trabalho pressionam para agudizarmos o conflito na luta de classes com o objetivo de superá-lo. E não implica diferenças na produção de valor desse modo particular de acumulação que com isto requer que estejamos na luta como classe organizada homens e mulheres.

Mas isto significa que a luta da mulher é menos importante?

Não. Todo o contrário. Ao se aproveitar de forma oportunista de diversidade transformando-a em diferenciação concorrência mercadoria o que o capital faz é transformar o mundo do trabalho em grupos fragmentados que disputarão entre si posições a partir daquilo que aparentemente estão dispostos a receber. Aqui entra em cena o tema do trabalho assalariado “livre” para parte da sociedade. Outra parte mais numerosa classificada como desqualificada para o trabalho formal é o que no mundo do trabalho fica caracterizado pelo capital como trabalhadores informais. Estes estão fora dos direitos e deveres da ordem burguesa logo necessitam ser vigiados e castigados.

Por isso e muito mais a luta da mulher como classe que vive do trabalho é imprescindível. é a partir da forma como somos encaradas pelo capital como mercadoria ainda mais precária que a mercadoria trabalho em geral que a potencialização da nossa luta ganha dimensões ainda mais expressivas.

Em outras palavras a particular forma de opressão e exploração vivida por nós mulheres tanto no mercado de trabalho (formal e informal) quanto no processo de produção de valores politico-culturais traz para a classe organizada elementos substantivos de ao compreender os mecanismos gerados pelo capital contra o trabalho lutar organizada e coletivamente por sua superação.

Nossa histórica tarefa revolucionária é a de trabalhar por uma estratégia que supere esse modo de morte em vida ora protagonizado por nossa classe sob o domínio do capital. Nossa tática como mulheres pertencentes à classe trabalhadora se vincula à estratégia de ao frear a extração de valor lutar por um outro projeto de socialização da produção e das relações sociais que a dão vida.

Por: Roberta Traspadini – economista educadora popular e integrante da Consulta Popular-ES

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