Os dados do PIB − Produto Interno Bruto divulgados em 10 de março de 2009 pelo IBGE evidenciaram que o impacto da crise financeira internacional sobre a economia brasileira havia sido minimizado pelas autoridades governamentais brasileiras. Isto porque o PIB do quarto trimestre de 2008 em relação ao trimestre imediatamente anterior registrou forte recuo de -36% a maior queda desde o início da série em 1996. Analisando-se essas informações sob a ótica da oferta global a Indústria foi o setor que registrou a maior queda (-74%) seguida pela Agropecuária (-05%) e pelos Serviços (-04%). Deve-se notar que os setores com maiores perdas foram aqueles mais dependentes das linhas de crédito bancárias e do setor exportador caso das montadoras e toda a sua cadeia produtiva; os segmentos de bens de capital máquinas e equipamentos além dos segmentos da construção civil papel e celulose couro madeira e agroindústria.

A análise sob a ótica da demanda em igual período de comparação mostra que o Consumo das Famílias experimentou recuo de -2% a primeira taxa negativa observada desde 2003; a Formação Bruta de Capital Fixo registrou queda de -98% o maior recuo desde 1996 e os Gastos de Consumo da Administração Pública aumentaram 05%. Abrindo-se a economia a análise mostrou que as Exportações de Bens e Serviços recuaram -29% enquanto as Importações de Bens e Serviços tiveram queda de -82%.

Os dados de janeiro publicados pelo IBGE são analisados a seguir com a ressalva de que um mês é um período muito curto para que se possa avaliar se está sendo observada uma reversão na taxa de crescimento do produto industrial brasileiro. Essas informações coletadas pelo IBGE através da Pesquisa Industrial Mensal Produção Física–Brasil registram que no confronto janeiro de 2009 com dezembro de 2008 a produção industrial cresceu 23% na série com ajuste sazonal interrompendo a sequência de três resultados negativos. Esse aumento segundo o IBGE foi devido à expansão observada em 15 dos 27 ramos investigados e em três das quatro categorias de uso. Menção especial é dada a veículos automotores cuja expansão de 408% refletiu o retorno parcial das férias coletivas concedidas pelo setor nos meses anteriores e aos setores de material eletrônico e equipamentos de comunicação (284%) borracha e plástico (136%) têxtil (103%) e alimentos (16%). Essas taxas de crescimento devem ser analisadas com o devido cuidado pois foram obtidas tomando-se uma base de comparação muito baixa uma vez que em dezembro de 2008 esses mesmos setores experimentaram fortes quedas respectivamente -408% -390% -203% -119% e -43%.

Salienta o IBGE por outro lado que para períodos mais longos os resultados relativos ao produto industrial não são nada animadores. Assim na comparação com janeiro de 2008 o recuo no produto industrial foi da ordem de -172% a terceira queda consecutiva nesse mesmo período de comparação; já o indicador acumulado nos últimos 12 meses embora em trajetória descendente apresentou variação positiva de 10%.

Quanto ao emprego os dados da Pesquisa Industria Mensal de Emprego e Salário publicada pelo IBGE relatam que o emprego na indústria recuou -13% em face de dezembro de 2008 mês imediatamente anterior na série livre de influências sazonais. Afirma o IBGE que esse foi o quarto resultado negativo consecutivo acumulando o emprego industrial queda de -39% desde setembro do ano passado. O índice da média móvel trimestral em janeiro (-13%) acentuou o ritmo de queda em relação ao mês anterior (-09%) evidenciando uma retração de -24% entre setembro/2008 e janeiro/2009. Na comparação com igual mês de 2008 as informações coletadas registram recuo de -25% a pior taxa observada desde 2001. Já no acumulado de 12 meses a taxa ainda é positiva (16%) e reflete o crescimento do nível de atividade registrado de janeiro a setembro de 2008.

Quanto ao número de horas pagas os dados do IBGE registram queda de -36% na comparação com igual mês do ano anterior; segundo esse Instituto a menor taxa da série histórica iniciada em 2001 e de -18% em face de dezembro de 2008. No tocante à folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria em janeiro de 2009 em relação ao mês imediatamente anterior apresentou taxa negativa de crescimento (-12%) o quarto resultado negativo consecutivo acumulando perda de -45%. Já em relação a janeiro de 2008 o valor total da folha de pagamento apresentou variação positiva de 12% contudo o menor resultado registrado desde 2006.

O IBGE em outra pesquisa a mensal de emprego registra que a taxa de desocupação em janeiro de 2009 foi de 82 % subindo 14 pontos percentuais em relação a dezembro de 2008 com aumento de 02 pontos percentuais em relação à observada em igual mês do ano anterior (quando atingiu 80%). Os dados do IBGE registram também que o contingente de pessoas ocupadas estimado em 221 milhões em janeiro de 2009 para o total das seis regiões metropolitanas apresentou-se estável tanto em relação dezembro de 2008 quanto a janeiro de 2008. Quanto ao rendimento médio real habitualmente recebido pelos trabalhadores relata o IBGE que em janeiro de 2009 o valor foi estimado em R$1.31870 (um mil trezentos e dezoito reais e setenta centavos) registrando um incremento positivo de 22% em relação a dezembro de 2008 e de 59% em relação a igual mês de 2008. Como se pode notar os dados publicados pelo IBGE até este momento registram uma reversão na taxa de crescimento do produto industrial. Todavia essa informação necessita ser confirmada nos próximos meses quando serão trazidos à luz dados do produto industrial e do emprego. Deve-se salientar por outro lado que após a divulgação dos resultados do PIB − Produto Interno Bruto do último trimestre de 2008 observou-se uma rápida e forte deterioração das expectativas quanto ao desempenho da economia nos próximos períodos. é o que se depreende das informações constantes no último relatório Focus divulgado pelo Banco Central do Brasil em 13 de março próximo passado. As previsões para a taxa de crescimento do PIB brasileiro para 2009 que antes se situavam em torno de 15% foram revistas para baixo e agora apontam para uma variação positiva da ordem de no máximo 059%.

Por: Manuel Enriquez Garcia é professor da FEA-USP.

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