Segundo o Valor apurou a Caixa também deve comprar parte das ações preferenciais (PN) pertencentes ao empresário. O grupo Silvio Santos detém por meio de três empresas 100% do capital votante do banco e 413% das ações PN. A Caixa ficaria com metade dessa fatia algo em torno de 20% das PNs do PanAmericano. No total portanto o banco federal assumiria cerca de 375% do capital total do Panamericano.

Os contratos ainda não foram assinados mas a negociação está próxima do fim. Diante do vazamento de informações ontem a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) cobrou explicações do PanAmericano. Até o fechamento da edição o banco não havia enviado comunicado ao mercado. A Caixa não tem ações em bolsa. As ações do banco do grupo Silvio Santos têm subido fortemente em parte por conta dos rumores da compra. Em novembro o papel acumula alta de 4198% e no ano valorização de 28321%. Ontem a ação PN fechou a R$ 930 com alta de 108%.

Toda a operação está sendo desenhada para que não configure aquisição de controle pela Caixa. Isso porque o PanAmericano diferentemente do Votorantim tem ações preferenciais negociadas em bolsa e pelo estatuto social do banco todos os preferencialistas têm direito a receber o mesmo valor pago ao controlador em caso de alienação do controle. Ou seja a Caixa poderia ser obrigada a realizar oferta pública de aquisição de ações para os minoritários exercerem o direito de ‘Tag along“.

Caixa e PanAmericano assinarão um acordo de acionistas para compartilhar a gestão do banco. No conselho de administração o mais provável é que haja equilíbrio entre o número de representantes indicados por cada lado. Haverá também conselheiros independentes. Na operação entre BB e Votorantim a questão da governança do banco foi a mais complicada e quase inviabilizou o fechamento do negócio. O Votorantim relutava em compartilhar a gestão e o BB não abria mão de ter papel decisivo.

A auditoria dos números do PanAmericano pela equipe da Caixa demorou mais do que o esperado e levou dois meses.

O maior atrativo do negócio para a Caixa é a atuação conjunta sobretudo nas áreas de financiamento para aquisição de veículos e empréstimos com consignação em folha de pagamento.

O modelo semelhante ao desenhado entre BB e Votorantim permitirá que o PanAmericano continue com controle privado e portanto mantenha agilidade para competir no mercado. Bancos do controle do governo têm mais restrições para operar como a obrigatoriedade de fazer licitações para abrir agências e concursos públicos para contratar funcionários. A ideia é fazer uma blindagem para evitar nomeações políticas.

A aquisição de ações do PanAmericano será feito por meio da CaixaPar a empresa de participações criada pela Caixa no início ano. Esse não deverá ser a única operação. O banco federal negocia parcerias semelhantes com outras instituições financeiras. O seu interesse inclui áreas como “leasing“ serviços financeiros como cartões de crédito e financiamentos a médias empresas. Também está à procura de uma nova seguradora para oferecer seguro de financiamentos imobiliários depois que uma medida provisória (MP) editada pelo governo extinguiu a exclusividade que o banco tinha com a Caixa Seguros nesse produto financeiro.

A busca de parceiros estratégicos é a forma encontrada pela Caixa para manter o rápido ritmo de expansão de sua carteira de crédito que cresceu 619% nos 12 meses encerrados em setembro. O diagnóstico dentro do banco federal é que para crescer mais rapidamente será fundamental contratar crédito fora de suas agências atuando no chamado segmento de não-clientes.

O chamado crescimento orgânico pela abertura de novas agências é particularmente caro e demorado em um banco público por causa de fatores como lei de licitações e obrigação de realização de concursos públicos. Além disso o crédito contratado nas próprias agências tem um alto custo fixo representado pelas instalações físicas e funcionários.

O objetivo com as parcerias é procurar os clientes fora das agências por dois motivos. Primeiro porque grande parte do crédito é contratada nas redes varejistas. Os consumidores por exemplo vão às agências de automóveis para comprar um carro e na própria loja contratam o crédito. Hoje a Caixa tem poucas parcerias com redes varejistas. Segundo motivo: fora das agências a Caixa trabalha sobretudo com custos variáveis como comissões para a contratação das operações de crédito.

O Banco PanAmericano tem uma posição bastante consolidada em financiamentos de automóveis. Sua carteira no segmento somava R$ 3251 bilhões em junho ou 503% de sua carteira de crédito segundo o balanço mais recente do banco. A Caixa não diz em seu balanço quanto é sua carteira de veículos. Em setembro de 2009 a rubrica do balanço denominada “outros créditos“ entre os quais se incluem financiamentos de veículos somava R$ 883 milhões. é pouco comparado com uma carteira de crédito de R$ 111958 bilhões registrada no balanço.

Para o PanAmericano a lógica da operação é ter uma base de captação mais estável e com custos mais baixos que só um grande banco de varejo é capaz de proporcionar. Sem rede de varejo o PanAmericano capta sobretudo por meio de depósitos a prazo de grandes clientes com juros relativamente altos se comparados com os bancos de varejo. A estrutura mais cara de captação faz com que do lado do ativo o banco procure emprestar nos segmentos mais rentáveis do mercado. Sua presença no segmento de veículos novos com margens mais apertadas é menor do que no segmento de semi-novos com até cinco anos de uso. O banco também opera no segmento de veículos com mais de cinco anos de uso. Uma parceria com a Caixa permitiria ao banco captar mais barato e atuar mais fortemente no segmento de veículos novos.

Além de veículos outro segmento forte no PanAmericano é o crédito consignado com R$ 952 milhões em junho ou 166% da carteira. O banco também atua na área de leasing (a Caixa não tem empresa no segmento) e em cartões de crédito.

Fonte: Valor Econômico

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