O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que ainda faltam “detalhes técnicos“ para o governo paulista fechar a venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil cujo anúncio era aguardado ontem. A declaração foi feita após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o governador de São Paulo José Serra (PSDB) e Mantega no Palácio do Planalto.

“A decisão de fazer a aquisição já foi tomada no passado. Faltam detalhes técnicos como definir valor geral em que condições vai ser feito [o pagamento] quais são os ativos que permanecem“ disse Mantega.

Serra disse que essa é “uma questão que está sendo levada pelo BB e pela Nossa Caixa não está sendo levada no plano político.“ “é um assunto sempre delicado que envolve mercado de ações CVM [Comissão de Valores Mobiliários] e nós não tomamos nenhuma decisão a esse respeito porque não cabe à instância política tomar essa decisão“ afirmou o tucano.

Desde o início das negociações entre os bancos em maio as ações da Nossa Caixa subiram 9922%. No período a Bovespa caiu 5379% (Ibovespa).

Segundo a Folha apurou até o encontro de ontem não havia acordo sobre a forma de pagamento. O BB não quer desembolsar a quantia acertada em dinheiro porque teme reduzir muito a sua liquidez num momento de crise em que a instituição está atuando fortemente para tentar garantir que bancos menores tenham recursos para suas operações.

Com isso o BB queria quitar a operação ou pelo menos parte dela com ações do banco. A proposta não é atraente para Serra que prefere dinheiro vivo para poder fazer investimentos nos dois últimos anos de sua gestão e se cacifar como candidato à sucessão de Lula.

Conforme antecipou a Folha o valor do negócio foi fechado há cerca de duas semanas em R$ 64 bilhões. A quantia pode sofrer alguns ajustes dependendo de acertos de créditos e débitos do banco paulista e também uma oferta a acionistas minoritários. Com isso poderia chegar a R$ 7 bilhões.

Esse valor representa mais da metade dos recursos que foram liberados para o BB comprar carteiras de crédito e bancos inteiros após o Banco Central mudar as regras de recolhimento compulsório (parcela dos depósitos captados pelo banco que fica obrigatoriamente parada nos cofres do BC).

Desse montante o BB tinha reservado R$ 6 bilhões para compra de carteiras de crédito consignado de veículos e para realização de empréstimos diretos garantidos por outros financiamentos feitos pelas instituições que precisam de dinheiro neste momento.

Para os outros R$ 5 bilhões não havia uma definição específica. A idéia era usá-los justamente para aquisições de bancos já que o BB e a Caixa Econômica obtiveram autorização legal para ir às compras com a edição pelo governo da MP 443. Até então eles não podiam adquirir instituições privadas.

Engenharia financeira
Com isso a idéia do BB é pagar parte do valor acertado com Serra em ações. No entanto isso exigirá uma engenharia financeira paralela já que o governador precisa de um prazo – que pode ser de até dois anos – para vender essas ações no mercado.

Nesse caso o BB precisaria garantir a Serra a manutenção de um preço fixado para as ações no momento da conclusão da negociação.

O pagamento em ações também é interessante para o BB porque ajuda o banco a se encaixar nas regras do Novo Mercado da Bovespa classificação dada a empresas com padrões de governança corporativa elevados que protegem os acionistas minoritários.

Fonte: Folha de S.Paulo

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