No Brasil o consenso é que a economia vai desacelerar. Para muitos setores esta realidade já começou. O mercado automotivo e imobiliário dão os primeiros sinais. A Cyrela Brazil Realty por exemplo admitiu nesta sexta-feira que fará demissões no quarto trimestre para reduzir despesas administrativas.

Demissões

“Assim que fizermos (as demissões) vamos informar a magnitude ao mercado“ disse hoje o diretor de Relações com Investidores da companhia Luis Largman em teleconferência com analistas e investidores. No terceiro trimestre as despesas gerais e administrativas da Cyrela cresceram 962% para R$ 588 milhões na comparação com o mesmo período do ano passado.

As novas demissões vão abranger a Seller empresa de vendas da Cyrela. “A Seller é um pilar importante para a Cyrela mas se vai vender menos também vai reduzir pessoal“ disse o presidente da Cyrela Elie Horn. A Cyrela reduziu sua previsão de Valor Global de Vendas (VGV) de lançamentos para 2008 para a faixa de R$ 525 bilhões a R$ 56 bilhões ante estimativa anterior de R$ 7 bilhões. A meta de vendas caiu de R$ 55 bilhões para entre R$ 4675 bilhões e R$ 495 bilhões. Para 2009 as projeções estão sendo revistas.

As mudanças na Cyrela abrangem também a redução do prazo de pagamento dos imóveis aos compradores. “Estamos oferecendo menos prazo ao mercado em razão da crise até que isso passe“ disse o presidente da companhia. No caso da Living braço da Cyrela para a baixa renda o valor a ser pago até a entrega das chaves aumentou de 20% para 25% de acordo com Horn. Nas unidades com preço até R$ 350 mil a empresa está buscando mais repasses dos clientes para os bancos. “Acima da faixa do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) nada mudou“ acrescentou Largman.

Vale já sente crise

Outra empresa que já sente efetivamente o cenário pessimista que há vários meses impera no exterior é a Vale. O diretor-executivo de Finanças da mineradora Fábio Barbosa na primeira apresentação da companhia para investidores em Londres admitiu que a empresa não esperava um ajuste tão rápido na demanda por aço na China o que afeta diretamente o mercado da Vale.

“Não antecipamos a gravidade da crise.“ Segundo o diretor até setembro o mercado chinês operava dentro da normalidade tanto que os embarques foram recordes nesse mês e a companhia ainda tentava conseguir novo reajuste de preços confiando na força da demanda.

A Vale começou a perceber que a situação tinha se alterado em outubro conforme Barbosa. A estratégia de nova elevação dos valores na China foi abandonada e além disso a empresa retirou o acréscimo de 12% que já havia sido acertado com japoneses e coreanos como revelou recentemente. Barbosa lembrou que 51% do consumo de aço na China vem do setor de construção muito abalado atualmente pela escassez de crédito. “O cenário de curto prazo não é bonito para dizer o mínimo.“

Bancos internacionais

No cenário internacional a crise já provoca estragos maiores. O Citigroup começou uma nova rodada de demissões e está aumentando as taxas de juros para os clientes de cartões de crédito numa tentativa de melhorar a rentabilidade da companhia de acordo com o Wall Street Journal.

Nesta semana o Citigroup cortará pelo menos 10 mil funcionários de seu banco de investimentos e de outros setores da companhia em todo o mundo segundo fontes. Pandit instruiu os executivos da empresa a diminuir em pelo menos 25% os gastos com salários.

Citigroup já demitiu 23 mil

Nos últimos quatro trimestres o Citigroup demitiu 23 mil pessoas enxugando o quadro de funcionários para 352 mil até 30 de setembro. O corte anunciado recentemente foi o maior até o momento. De acordo com uma fonte o objetivo é reduzir o número de empregados do Citigroup para 290 mil até o ano que vem. Ou seja mais 62 mil trabalhadores e trabalhadoras do grupo multinacional deve receber de presente no Ano Novo uma carta de demissão.

Na Europa o Royal Bank of Scotland (RBS) planeja cortar três mil empregos em seus segmentos de mercados e atividades bancárias globais informou a BBC nesta sexta-feira. O banco que emprega cerca de 170 mil pessoas das quais 100 mil no Reino Unido não falou diretamente sobre os cortes. “Nós constantemente revemos nosso modelo operacional para ter certeza de que ele é apropriado para as condições do mercado“ De acordo com a BBC os cortes ocorrerão durante as próxima semanas.

Carros e tecnologia

A Nissan Motor informou nesta sexta que estenderá os planos de cortar a produção de automóveis em meio à desaceleração dos gastos do consumidor reduzindo a produção no Japão em 72 mil veículos a partir de dezembro. A terceira maior montadora japonesa em vendas disse que o corte significará a perda de 500 empregos de curto prazo nas operações japonesas em 2009.

Na área da informática a Sun Microsystems informou nesta sexta que cortará entre 5 mil e 6 mil empregos. A crise econômica aumentou os problemas enfrentados pela companhia devido à fraca demanda por computadores sofisticados. A Sun informou que o corte de empregos representa de 15 a 18 por cento de sua força de trabalho e faz parte de um plano mais amplo de reestruturação que pretende economizar entre 700 milhões e 800 milhões de dólares.

Telefonia

A empresa espera registrar um total de gastos em uma faixa entre 500 milhões e 600 milhões de dólares nos próximos 12 meses em linha com o plano de reestruturação que também inclui o realinhamento de sua divisão de software.

A Nokia também se pronunciou nesta sexta e afirmou que prevê queda nos volumes da indústria em 2009. As possíveis demissões não foram citadas diretamente mas a empresa comentou a desaceleração das principais economias do mundo. A maior fabricante de celulares do mundo afirmou que o mercado de telefonia móvel deve ser mais fraco do que o esperado no quarto trimestre por causa da crise econômica e que deve recuar mais em 2009.

Desemprego não é inevitável

Deste modo os fatos em desenvolvimento mostram que a primeira providência dos capitalistas diante de uma crise que decorre da própria lógica interna de reprodução do capital em escala social é transferir a conta para as costas largas da classe trabalhadora através do desemprego redução de salários e a precarização das relações trabalhistas. Pouco lhes importa saber que as famílias dos novos desempregados serão condenadas a grandes dificuldades o que não exclui a fome. O capitalismo é indiferente ao sofrimento dos pobres e impiedoso com a classe trabalhadora.

O desemprego é vendido como uma fatalidade pelo pensamento burguês neoliberal mas na realidade não se trata de um fenômeno inevitável a não ser sob o capitalismo. As relações de emprego são determinadas pelo capitalista; por deter a propriedade dos meios de produção (sem os quais a força de trabalho em nossa época é praticamente inútil) o capitalista dispõe do poder de admitir ou demitir a bel prazer e no momento que bem entender respaldado no Brasil por uma legislação retrógrada e leniente que não concretiza o princípio constitucional que proíbe demissões imotivadas e rechaça a Convenção 158 da OIT.

Se houvesse por aqui uma garantia ainda que mínima de estabilidade no emprego a insegurança não seria tão grande para a classe trabalhadora. Por isto o movimento sindical e o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras não podem contemplar passivamente o desenrolar da crise. é preciso intervir para que as políticas públicas em resposta aos dilemas decorrentes das turbulências econômicas protejam a força de trabalho assegurando estabilidade ampliando a oferta de emprego no setor público reduzindo a jornada de trabalho sem redução de salários e elevando o valor dos gastos e investimentos estatais.

Fonte Gestão Sindical

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