Há porém outro fenômeno que surpreendeu banqueiros: o uso do dinheiro de plástico pelos clientes de menor renda. Parte desses consumidores estreantes no mercado tem enfrentado dificuldade em entender o funcionamento desse meio de pagamento. A situação preocupa instituições financeiras.

Boa parte dos milhões de cartões emitidos nos últimos anos foram para o bolso de clientes da chamada nova classe média. Muitos nunca haviam tido contato com o meio de pagamento. A estreia desses consumidores que foi amplamente comemorada pelo mercado tem trazido alguns empecilhos aos bancos.

Casos não faltam. Há consumidores que acham que só precisam pagar o valor descrito no campo “pagamento mínimo“. Outros sacam dinheiro do cartão para ajudar em compras que têm financiamento mais barato como material de construção ou carro usado.

Educando o cliente. Aparentemente a situação parece boa para os bancos já que o cartão cobra o maior juro do mercado. Mas a natureza dos casos tem causado desconforto nos bancos que temem que o uso inadequado cartão possa comprometer tanto o cliente a ponto de o consumidor perder a capacidade de honrar a dívida. Assim a operação que daria um grande lucro vira prejuízo.

Para tentar evitar o problema bancos passaram a ser mais agressivos na tentativa de “educar“ clientes.

O Santander iniciou campanha que explica que toda compra tem uma linha de crédito adequada. Diz por exemplo que há empréstimos para períodos curtos que funcionam como um táxi que é usado para distâncias menores. “Você iria de táxi de São Paulo a Recife?“ questiona o comercial exibido em horário nobre.

O Itaú tem publicado pequenas cartilhas em revistas populares com dicas simples para evitar descontrole de gastos como “usar comandas individuais em bares“.

“A intenção é evitar transformar o cliente em uma arma. As instituições entenderam que se o consumidor usar o crédito de forma inadequada ou tiver uma vida financeira desorganizada a vítima será o próprio banco“ diz Rodrigo Del Claro diretor da Crivo consultoria de análise de risco que presta serviço ao sistema bancário.

“Os recados são para os novos clientes das classes C e D. Os bancos estão com medo de inadimplência desse pessoal“ completa Del Claro.

Explicação psicológica. Já que o juro não explica a troca do cheque pelo cartão alguns especialistas passaram a buscar outras razões para o fenômeno. O professor de finanças pessoais do Insper Ricardo José de Almeida afirma que muitos clientes preferem “reservar“ o limite do cheque especial para emergências.

“Quando o cliente não tem dinheiro para pagar o cartão opta em usar o rotativo porque quer manter o limite da conta corrente para emergências. O raciocínio é que o cartão nem sempre é aceito em uma urgência como no médico ou em uma oficina“ diz.

Há ainda a percepção de que usar o rotativo ou sacar dinheiro do cartão são ações “menos graves“ que enxergar o saldo negativo da conta.

é um efeito meramente psicológico. “Infelizmente clientes não olham os juros. Porque a escolha racional seria optar pelo menos alto que nesse caso é o cheque“ lamenta.

Para o especialista o movimento é preocupante. “é um dinheiro caro o mais caro disponível nos bancos. Em uma situação de reversão da econômica o juro alto pode facilmente transformar a dívida que aparentemente é administrável em uma bola de neve incontrolável“ diz.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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