O que era maldição virou virtude? A crise financeira internacional colocou em relevo o papel dos bancos públicos como instituições que podem ser usadas para suprir o mercado de crédito no momento em que os bancos privados se recolhem.

O movimento do Banco do Brasil que ontem anunciou a compra da Nossa Caixa e está na corrida para reassumir a liderança perdida com a fusão entre Unibanco e Itaú porém traz preocupações legítimas.

A história dos bancos públicos no Brasil é condenável. As instituições estaduais foram usadas com avidez nos anos 80 como instrumento político dos governadores – verdadeiros emissores de moeda – e quase todas quebraram tendo que trocar de mãos.

O Banco do Brasil peça chave no financiamento das políticas públicas naquela década teve que ser capitalizado nos anos 90 por ter chegado a uma situação de deficiência patrimonial.

O Tesouro Nacional acionista majoritário do banco aportou R$ 8 bilhões no Banco do Brasil para cobrir as práticas pouco recomendáveis de então.

Na ocasião aquele valor correspondia a US$ 8 bilhões. Em 2001 num programa de reestruturação dos bancos públicos o Tesouro Nacional fez uma grande troca de ativos do Banco do Brasil sobretudo os papéis que o banco verdade assumiu papéis de pouca valia que o banco teve que assumir da dívida externa brasileira e de lá para cá mudou bastante a governança da instituição.

Armínio Fraga ex-presidente do Banco Central (autoridade responsável pela supervisão e fiscalização dos bancos no país) não achava que era maldição nem enxerga hoje como uma virtude a existência de bancos públicos fortes. “Eu não iria tão longe. A questão merece um olhar mais completo de custos e benefícios“ disse ao Valor. “Pode ser útil em certas circunstâncias e não é fácil definir quais mas sempre há risco“. Ou seja “no mundo real os mercados falham mas os governos também falham“ lembra ele.

Os riscos dos bancos públicos vão desde a adoção de práticas no mercado de crédito que gerem desequilíbrios macroeconômicos a no exemplo brasileiro de mal uso político dessas instituições. Para evitar a repetição de problemas dessa natureza é importantíssimo indica Armínio dar toda a transparência às operações.

Se os bancos públicos vão suprir a oferta de crédito dadas as restrições do crédito privado merece uma análise cuidadosa saber porque os bancos privados não estão emprestando salienta Armínio. Assim como deve haver explicação para o fato de obedecendo estritamente as regras de mercado nenhum banco privado ter aparecido para comprar a Nossa Caixa.

Nos Estados Unidos e União Européia onde não há casas bancárias do Estado os tesouros saíram a campo para capitalizar os bancos em dificuldades no auge da crise num modelo que se pressupõe temporário para evitar risco sistêmico. Mas não é claro que no geral e como processo de mais longo prazo expandir o alcance do Estado sobre o sistema financeiro seja a melhor saída e sob que condições isso deveria ser feito.

O vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil Aldo Mendes acredita que não há mais ambiente e as regras de boa governança já implantadas no BB não mais permitiriam que influências políticas levem o banco a conduzir mal seus negócios. A crise financeira e seus reflexos no sistema bancário nacional mostraram disse ele que não é a origem do capital se estatal ou privado mas a “higidez“ do banco que está fazendo a diferença nesse momento. Mudanças radicais foram feitas no BB nos últimos anos e “esse é um processo que não tem mais volta“.

O Banco do Brasil que antes era apenas uma variável na grande equação da gestão das finanças públicas no país (nos tempos da conta movimento e do orçamento monetário) hoje afirma o vice-presidente é uma instituição mais blindada que está no novo mercado e deve satisfações aos seus acionistas.

Em 2000 o BB comprometia 99% da sua receita operacional com custeio da máquina. Hoje esse percentual caiu para 45% o que significa que a instituição está no padrão de eficiência do mercado e deve resultado aos acionistas que em dois anos praticamente triplicaram passando de 7% para 21% do capital.

O acerto com a Nossa Caixa vai dar ao BB duas enormes vantagens indica Aldo Mendes: o banco passará a ser o primeiro em número de agências (1324) no estado de São Paulo onde até agora é o quarto (com 772 agências) seguido do Itaú-Unibanco com 1240 agências 1204 do Santander e 1168 do Bradesco ganhando musculatura no maior estado do país; e compra uma instituição com enorme liquidez o que hoje está valendo ouro no mercado financeiro.

A Nossa Caixa tem ativos de R$ 53 bilhões e uma carteira de crédito de apenas R$ 11 bilhões. A base de depósitos do banco paulista (“core deposit“) é de depósitos judiciais a vista e poupança que não são suscetíveis a corrida em momentos de crise. Ou seja o vice-presidente diz que “no limiar o BB vai pagar a compra com a liquidez“.

Aldo Mendes avalia que o negócio estará fechado mesmo até março se tudo correr bem pois a operação terá que ser aprovada pela Assembléia Legislativa de São Paulo pelas assembléias dos dois bancos e pelo Banco Central. “Esse é um cronograma ambicioso“ concluiu.

Fonte: Valor Econômico

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