Depois de oferecerem crédito facilitado e com prazos longos os bancos devem amargar maior inadimplência neste ano. Especialistas alertam de que o aumento do desemprego no país pode levar a uma onda de calotes nas dívidas feitas antes da crise econômica mundial. Os últimos dados oficiais apontam para crescimento de 193% no endividamento do brasileiro. Em novembro a inadimplência ficou em 78% do total que deveria ser pago no mês -a maior do ano. Em novembro de 2007 era de 71%.

O Sistema de Informações de Crédito do Banco Central ao qual a Folha teve acesso mostra que 1676 milhões de pessoas têm dívidas bancárias acima de R$ 5.000. O dado é de junho -o último disponível anterior ao agravamento da crise.

Em junho de 2007 o número de pessoas com dívidas altas era de 1352 milhões ou seja o endividamento considerado elevado cresceu 193% em um ano. Na comparação em 18 meses o aumento foi de 25%.

Após a piora da crise houve desaceleração da oferta de crédito mas o volume emprestado pelos bancos não caiu. Ao contrário os novos clientes que tomaram financiamento pagaram taxas de juros mais altas usando parcela maior da renda.

“O brasileiro entra em 2009 muito endividado. Se o desemprego crescer no primeiro trimestre veremos um efeito no aumento da inadimplência. Acredito que isso já possa ocorrer no primeiro bimestre quando as pessoas têm de pagar despesas extras de escola IPVA IPTU“ afirmou Luiz Miguel Santacreu analista de instituições financeiras da consultoria Austin Rating.

O desemprego no Brasil fez suas primeiras vítimas nos dois últimos meses de 2008. Demitido em 3 de dezembro de uma unidade da Vale em Itabira (MG) Joaquim Gomes Neto 49 enfrenta dificuldades para pagar empréstimo feito há três anos de R$ 35 mil com prazo de sete anos. Na época o salário de R$ 2.143 bastava para as parcelas mensais de R$ 600.

Com a demissão ele ainda terá quatro anos para quitar os R$ 25 mil restantes. Como contribuía com a Valia (fundo de pensão da Vale) tem direito a R$ 740 mensais dos quais sobram apenas R$ 140 para as despesas após pagar a dívida.

“Recebi meu FGTS. Estou conseguindo viver. Até porque não tem jeito. A gente aperta e o dinheiro tem de dar.“

Carro e cartão de crédito
Os dados do BC mostram que as operações de crédito que mais cresceram em um ano foram as de leasing (arrendamento mercantil) usadas na maioria das vezes para a compra de automóveis (aumento de 1464%) e o uso do crédito rotativo do cartão (477% de alta). Este último conta com a taxa de juros mais alta do mercado.

“O uso do crédito rotativo do cartão e do cheque especial é sinal de descontrole do orçamento familiar. Isso já acontecia antes da piora da crise. Mas com o desemprego vira uma bola-de-neve e um inferno a essas pessoas“ diz Gilberto Braga professor de finanças do Ibmec.

Embora os bancos estimulem o uso do crédito rotativo do cartão e do cheque especial por terem juros mais altos Braga recomenda que os clientes evitem essas dívidas. Ele diz que em momento de incerteza a melhor decisão é cortar gastos que não cabem no orçamento.

O economista Marcel Domingos Solimeo da Associação Comercial de São Paulo alerta de que outro fator que pode elevar a inadimplência em 2009 é a menor disposição dos bancos em renegociar dívidas com seus clientes. Isso porque as instituições financeiras também têm sentido os efeitos da crise e enfrentam dificuldades para colocar dinheiro em caixa.

Apesar dos riscos o governo diz que ainda há espaço para a expansão do crédito em 2009. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central Altamir Lopes ressalta que o grau de endividamento observado no Brasil ainda é baixo quando comparado com outros países.

Ele cita por exemplo o baixo volume de financiamentos habitacionais existentes no país. Hoje os empréstimos para a compra de carros superam em valor os destinados para a aquisição de imóveis. “Isso acontece porque os bancos não têm muitas opções para captar recursos que possam ser usados em financiamentos de longo prazo como os habitacionais“ diz Lopes.

Fonte: Folha de S.Paulo

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