Se forem levados em conta os quatro maiores bancos tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos a diferença aumenta. A rentabilidade dos principais bancos brasileiros no primeiro semestre deste ano de 285% é praticamente quatro vezes a dos americanos de 71%.

Os quatro maiores bancos brasileiros são o Itaú (rentabilidade de 30%) o Unibanco (30%) o Banco do Brasil (27%) e o Bradesco (265%). Já os americanos são o Goldman Sachs (232%) o JP Morgan Chase (85%) o Bank of America (58%) e o Citigroup (-115%).

O estudo com a comparação do desempenho dos bancos brasileiros e americanos foi feito pela consultoria Economática e levou em conta a rentabilidade média dos balanços publicados por 23 instituições no Brasil e 81 nos EUA no primeiro semestre deste ano.

Uma curiosidade é que do final de 2002 até o primeiro semestre deste ano portanto durante os cinco anos e meio do governo Lula a rentabilidade dos bancos brasileiros saltou de 124% para 217%. Já entre os bancos nos EUA nesse mesmo período a rentabilidade caiu de 157% para 89%.

Segundo o economista Fernando Exel presidente da Economática a primeira conclusão do estudo é que a crise do “subprime“ (as hipotecas imobiliárias de alto risco) dos EUA que já dura um ano e afetou a saúde das instituições americanas não respingou no país.

A razão da blindagem dos bancos brasileiros ao efeito “subprime“ na opinião de Exel deve-se ao fato de o volume de crédito imobiliário ser ainda muito pequeno principalmente em comparação aos EUA.

O maior risco para o Brasil não é o do “subprime“ mas de a crise de desaquecimento global atingir mais fortemente o país. Mesmo assim não será um problema no setor imobiliário e sim uma crise global.

Apesar de a crise do “subprime“ nos EUA ser a principal responsável pelo fato de os bancos brasileiros ganharem mais do que os americanos neste ano não se pode dizer que isso se trata de uma novidade. De acordo com a Economática tem sido assim nos últimos três anos. A crise do “subprime“ apenas ampliou essa diferença. “Se compararmos o desempenho dos quatro maiores bancos no Brasil e nos EUA sempre demos uma surra neles.“

Concentração e juros
Segundo Exel dois fatores explicam o fato de os ganhos dos bancos brasileiros superarem os dos americanos. Em primeiro lugar a maior concorrência nos EUA. O Brasil é um dos países com maior concentração bancária do mundo.

Outro fator é o juro alto modalidade na qual o Brasil tem sido imbatível nos últimos anos. O juro elevado também abre espaço para que os bancos elevem os “spreads“ a diferença entre o valor do dinheiro captado e o cobrado o que faz com que a lucratividade seja maior. Num país com uma taxa básica de juro de 2% como no caso dos EUA torna-se difícil para os bancos cobrarem “spreads“ muito elevados. Já no Brasil onde a taxa básica de juro atinge 13% é mais fácil para os bancos aumentarem os “spreads“.

O ex-deputado federal Delfim Netto afirma que os bancos brasileiros ganham muito porque o Banco Central proporciona condições para isso. A seu ver a alta rentabilidade do sistema bancário brasileiro se deve a mecanismos monetários adotados no país. “O banco age com a racionalidade de qualquer cidadão ao procurar maximizar seu lucro mas sempre dentro da lei“ diz.

Para Delfim o problema tem origem nos mecanismos de financiamento da dívida interna no país que obriga o Brasil a ter uma das mais elevadas taxas de juro do mundo. “O juro no país é um erro de política monetária que o Banco Central continua alimentando“ diz Delfim.

Já o economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola sócio da Tendências Consultoria discorda. Ele diz que no Brasil os “spreads“ são elevados não por causa do juro alto mas em razão da elevada carga tributária e dos altos custos administrativos. Loyola também não acha que o Brasil é um dos países com maior concentração bancária do mundo. Nos países europeus diz ele a situação se repete: são poucos grandes bancos. Nos Estados Unidos há um número significativo de instituições financeiras mas em sua maioria são bancos regionais.

Fonte: Folha de S.Paulo

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