O Banco Santander é um exemplo de como o Brasil fez com que a tempestade da crise se transforme numa refrescante chuva de verão para os bancos. A empresa registrou em 2008 uma redução de 2% de seu lucro em relação a 2007 atingindo 88 bilhões de euros. No Brasil porém seu lucro foi 22% maior alcançando 11 bilhão de euros que em reais representa R$ 32 bilhões.

O Santander é o terceiro banco que cobram mais caro pelo cheque especial contabilizando 99% de taxa de juros ao mês. Se você tiver dívidas com essa instituição talvez já tenha se convencido de que o Brasil é o melhor cenário para o lucro bancário e o pior cenário para o crédito.

Lucro embutido

é no índice do spread bancário que está embutido boa parte do lucro dessas empresas financeiras. Grosso modo é a soma do spread com a taxa de captação (o custo de obtenção dos recursos financeiros pelos bancos comerciais) que formam os juros cobrados sobre os empréstimos a pessoas físicas ou jurídicas. Já o spread é composto por impostos depósitos compulsórios despesas administrativas risco de inadimplência e claro a margem de lucro.

Ao longo de 2008 os brasileiros pagaram um spread médio de 266 pontos percentuais. Em dezembro o índice chegou a 306%. A média praticada em outros 42 países pesquisados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que representam mais de 90% do PIB mundial é de três pontos percentuais.

No último trimestre de 2008 conforme a Fiesp o setor industrial brasileiro despendeu R$ 55 bilhões em média por mês só para pagar juros ante uma média mensal de R$ 44 bilhões entre janeiro e setembro. No custo para captação de recursos dos bancos entretanto a média passou de R$ 372 bilhões para R$ 4 bilhões. Quer dizer os juros tiveram um aumento de 25% enquanto a taxa de captação contou com uma variação de 75%.

Spread contra emprego

“Não há a menor dúvida de que o spread bancário é um gigantesco entrave ao desenvolvimento inclusive ao gerenciamento da crise que está se aprofundando” lembra Reinaldo Gonçalves economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

é preciso compreender que não somente no momento de crise é esse lucro dos bancos embutido no spread que resulta nos juros altos. Estes por conseguinte dificultam o investimento produtivo de empresas e retêm o crédito a pessoas físicas. Toda essa onda vai na direção contrária ao desenvolvimento econômico. Quando ela quebra é o trabalhador que paga o preço perdendo seu emprego.

A desaceleração na expansão da oferta de crédito teve um impacto direto nas empresas. Somado aos demais efeitos da crise (como a dificuldade de captar recursos no exterior e a queda das exportações) a alta do custo financeiro contribuiu para a redução da atividade econômica. Tanto que a produção industrial caiu 75% de setembro para novembro. E a situação ficou ainda pior. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que houve recuo de 18% no nível de emprego na indústria em dezembro quando comparado a novembro.

Mais um dado revela como o capital financeiro se sobressai ao capital produtivo no Brasil. Segundo a Fiesp na média entre outubro e dezembro os desembolsos para pagamentos de juros foram 11% superiores aos gastos com salários. De janeiro a setembro a média das despesas financeiras correspondia a 95% dos gastos mensais com salários. Para Denise Gentil diretora adjunta de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) esses juros altos que comprimem os investimentos também desestimulam o consumo. “No todo haverá uma redução de demanda agregada e por consequência o aumento do estoque das indústrias. E aí as indústrias se veem diante de trabalhadores que elas não têm condições de sustentar nas fileiras de trabalho” explica.

Disfuncional

O governo cobra dos bancos que liberou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) reduziu a taxa do depósito compulsório e a Selic em janeiro e mesmo assim os juros finais não caíram. Os bancos por sua vez culpam o fator inadimplência pela elevação do índice.

O economista José Carlos de Assis presidente do Instituto Desemprego Zero desconsidera o argumento e acusa justamente o alto spread cobrado pelos bancos como o principal culpado da inadimplência dos clientes pelo simples fato de não conseguirem pagar as altas taxas. De acordo com ele é por essas e outras que o sistema bancário nacional se tornou disfuncional e criou um círculo vicioso quanto à falta de acesso ao capital produtivo. é sobretudo por causa desse círculo vicioso provocado pelo sistema bancário nacional que segundo Assis a crise atingiu o Brasil “ao lado da queda de exportações que é um fator externo”. (Leia mais na edição 311 do Brasil de Fato)

Fonte: Brasil de Fato

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