‘Cálculo do Valor que leva em consideração os anúncios feitos por empresas e sindicatos revela que o número de trabalhadores que tiveram a sua renda reduzida em função de acordos de redução de jornada e salário licença ou suspensão temporária dos contratos praticamente triplicou em fevereiro totalizando 90.163 pessoas contra 31.553 em janeiro. Em dezembro o número de atingidos ficou em 2.020 se for considerado que os 32 mil envolvidos acordos de redução de jornada não tiveram o salário reduzido. Além dos setores que sofrem os efeitos do agravamento da crise internacional desde o fim de 2008 também fizeram acordos empresas dos setores agrícola de alimentação borracha e aviação.

O total de demissões em massa (considerando os cortes de pelo menos 100 pessoas por empresa) também aumentou totalizando 9.454 até o momento contra 6.791 em janeiro. Os cortes envolvem empresas de grande porte e que fazem parte de uma longa cadeia produtiva como Embraer AGCO Dana e Nilza e todas informaram em comunicados que em função da queda nas vendas também fariam ajustes em suas encomendas.

A maioria dos sindicatos consultados considera positivos os resultados de fevereiro pois os acordos embora tenham provocado redução na renda garantiram emprego para mais de 90 mil trabalhadores. Além disso nos setores automotivo e de autopeças dez empresas decidiram encurtar o prazo das férias coletivas ou das licenças definidas em acordo devido à melhora nas vendas de veículos até fevereiro. Os riscos de novas demissões no médio prazo justamente em função desses cortes na renda e na produção porém ainda preocupam os sindicalistas.

“Estamos enfrentando uma crise de confiança e ainda é difícil dizer até onde irá o problema“ avalia o diretor da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul Jairo Carneiro. Ele calcula que há mais de 20 empresas do setor metal-mecânico negociando acordos como redução de jornada com e sem corte de salários programas de demissão voluntária e suspensão de contratos de trabalho – agora principalmente com empresas de médio porte. Desde outubro 35 mil dos 200 mil metalúrgicos gaúchos perderam o emprego.

Algumas empresas porém mudaram a estratégia em fevereiro. Foi o caso da John Deere que em janeiro anunciou a demissão de 502 funcionários em Horizontina e após negociar com o sindicato decidiu oferecer um programa de demissão voluntária aos 1.650 empregados remanescentes da unidade para substituir pelo menos em parte dos demitidos. A Zamprogna fabricante de tubos perfis e chapas de aço adquirida pela Usiminas também concordou em abrir um programa de demissões para afastar 241 funcionários. A Guerra que produz reboques e semi-reboques rodoviários também decidiu antecipar 10 dias das férias coletivas de 1.800 funcionários.

Os acordos fechados no Rio Grande do Sul incluíram a redução de jornada em empresas como Randon (implementos rodoviários e autopeças) Marcopolo (ônibus) MWM International (motores) e GKN (autopeças). Na semana passada a Gerdau também fechou acordo para suspensão do contrato de trabalho em três unidades.

No Paraná no ABC Paulista e em Minas Gerais as montadoras e empresas de autopeças também optaram por acordos que garantissem o emprego. Em função da melhora nas vendas de veículos no mês a Ford suspendeu férias coletivas de 350 em Taubaté; a Volkswagen renovou os contratos de 106 temporários em São Bernardo do Campo; a Renault cancelou a suspensão de contratos de 500 funcionários e a Fiat com as 14 empresas de autopeças de Betim fez um acordo garantindo estabilidade dos empregados até 10 de março.

Para os sindicatos porém as decisões das montadoras não são suficientes para projetar um fim breve para a crise no emprego. No Paraná enquanto a Renault prepara-se para reconvocar os empregados a Volvo voltou a dar férias coletivas a 1 mil trabalhadores para ajustar a produção de caminhões e motores e criou um banco de horas para compensação até dezembro de 2010. No fim de 2008 a Volvo demitiu 430 empregados da fábrica de Curitiba (PR) cortou turnos de produção e deu férias coletivas.

Em São Paulo os acordos de redução de jornada com redução de salários também se multiplicaram totalizando 20 acordos que envolveram 107 mil trabalhadores segundo levantamento do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes. Em janeiro o sindicato concluiu acordos com quatro empresas que atingiram 56 mil trabalhadores. Para o presidente do sindicato Miguel Torres a melhora nas vendas de veículos anima mas não é suficiente para reverter o cenário atual. “A crise no setor automotivo começou em outubro e demorou para chegar onde chegou. A retomada não vai ser rápida“ avalia. Conforme Torres o número de empresas solicitando acordos para reduzir jornada e salários ainda supera 120 e cresce o número de empresas de autopeças de pequeno porte com menos de 150 funcionários.

No ABC a redução das férias coletivas pelas montadoras animou empresas como a de autopeças Fiamm e a Prensas Schuler a também rever suas decisões – a primeira cancelou a redução de jornada de trabalho e a última substituiu a demissão de 180 por um programa de demissões voluntária. “Houve recuperação nas vendas das montadoras que voltaram a encomendar autopeças. Mas é preciso que haja melhora nas vendas de caminhões e nas exportações para que se confirme a reversão definitiva do cenário“ afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Sérgio Nobre.

Em Minas Gerais a reversão também é lenda. “Há sinais de retomada da produção [da Fiat] o que reforça a posição nossa de não aceitarmos a flexibilização dos contratos“ comentou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim Marcelino da Rocha. Além do acordo de estabilidade fechado entre o sindicato a Fiat e 14 empresas de autopeças a Proteco (que também fornece à Fiat) substituiu uma proposta de licença remunerada por férias coletivas.

Em Santa Catarina segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Joinville Genivaldo Ferreira dos 18 mil trabalhadores que o sindicato representa 12 mil fizeram acordos de férias coletivas ou redução de jornada. No setor plástico da cidade dos 20 mil trabalhadores 5 mil foram diretamente afetados ou por demissão ou por licença remunerada.

Na indústria de cerâmica de Campo Largo (PR) também houve melhora nas vendas em fevereiro e as negociações de redução de jornada foram canceladas segundo o o presidente do sindicato dos trabalhadores do município Paulo Andrade.
Fonte: Valor Econômico

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