As perspectivas do setor financeiro global no curto prazo serão caracterizadas por crescente regulamentação retorno à atividade tradicional na área bancária reestruturação de firmas alternativas de investimentos e emergência de uma nova categoria de ganhadores e perdedores. A avaliação é do Fórum Mundial de Economia num relatório analisando implicações da crise sobre o setor após anos de crescimento excepcional graças a políticas monetárias expansionistas desregulamentação financeira e utilização excessiva de crédito.

O estudo do fórum ilustra a explosão de débitos durante os 20 anos que conduziram à dramática crise financeira iniciada em meados de 2007. Ilustra com a situação dos Estados Unidos onde o total de créditos pulou de 160% do Produto Interno Bruto em 1980 para mais de 350% no ano passado.

Esse endividamento coincidiu com o forte declínio nas taxas de juros. Firmas alternativas de investimentos como hedge funds e “private equity” aproveitaram a alavancagem barata e o forte apetite por risco para acumular ativos que passaram de US$ 18 trilhão em 2003 para US$ 4 trilhões no final de 2007.

A globalização dos mercados financeiros e o crescimento das economias emergentes precipitaram também uma grande reestruturação na paisagem de investimentos institucionais. Globalmente o controle estrangeiro de ativos financeiros alcançou US$ 67 trilhões no começo de 2008 representando um terço dos ativos totais do setor comparado a US$ 17 trilhões uma década antes.

Para o fórum a crise atual marca o início de um novo capítulo para o sistema financeiro marcado por três mudanças principais. Primeiro a enorme desalavancagem dos bancos os deixará com menos oportunidades de financiamentos e investimentos atrativos. O aperto nos padrões de crédito e a maior aversão ao risco vão dificultar os empresários a financiar suas operações resultando em mais perdas e falências. E isso terá impacto no valor dos ativos dos bancos forçando mais busca de capital e contração do crédito. Segundo o volume das perdas do setor e a conexão entre as instituições globais levarão os governos a impor maior regulamentação. As instituições financeiras serão forçadas a ter mais capital contra seus ativos. Isso vai intensificar a concorrência por depósitos com os bancos procurando recursos mais baratos.

Terceiro haverá um retrocesso na globalização financeira que até agora tinha diversificado portfólio e aumentado os ganhos. A desaceleração econômica global já provocou uma queda nos fluxos de capitais e de comércio internacional.

Para o fórum essas mudanças terão profundas implicações sobretudo em quatro áreas. A primeira é que maior regulamentação global vai cortar o crescimento em muitas instituições financeiras. O sistema financeiro poderá ser dividido em duas categorias: financeiras ““utilitárias”“ e as financeiras que assumem mais risco. Como ““utilitários” os bancos poderão se tornar mais parecidas a empresas de saneamento e água por exemplo. Enfrentarão exigências de liquidez mais elevados. E os investidores verão essas instituições mais pela garantia do “cash flow”“ do que por crescimento de ganhos.

Além disso após terem perdido quase US$ 1 trilhão na atual crise os bancos comerciais e regionais voltarão a se focar nas atividades onde são mais competitivos. O fórum prevê também mais consolidação no curto prazo. A terceira implicação será nas firmas alternativas de investimentos. A desalavancagem vai provocar alteração nos modelos de hedge funds e reavaliação das estratégias de “private equity”.

A crise já afeta duramente os “hedge funds”. Os ativos sob gestão de US$ 19 trilhão no segundo trimestre de 2008 podem cair 40% este ano. Cerca de mil hedge funds já fecharam as portas e o numero deve chegar a quatro mil até o final de 2009.

Por sua vez companhias de private equity serão pressionadas a procurar novo equilíbrio entre oportunidades e riscos. Atualmente US$ 800 bilhões já comprometidos não foram ainda investidos.

O fórum prevê nesse cenário mais espaço por exemplo para ““family offices”“ que geram a riqueza e investimentos de uma ou mais famílias ricas. Uma pesquisa mostrou que 83 desses escritórios nos EUA têm US$ 334 bilhões sob gestão e estão bem posicionados para atuar como investidos de longo prazo em ativos subavaliados.

Para o fórum os vencedores da nova paisagem financeira global serão as instituições que entraram na crise com balanços mais fortes. E os perdedores são obviamente aqueles com maior exposição ao crédito e mais riscos de liquidez. O relatório faz também projeções sobre o longo prazo como a criação de três pólos financeiros regionais até 2020: América do Norte Europa e ásia.

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