A concentração no sistema bancário brasileiro aumentou na saída da crise financeira no ano passado quando grandes bancos voltaram às compras e foram fechadas grandes fusões e aquisições.

O processo tem motivação econômica: maiores os bancos têm o chamado ganho de escala que é a redução proporcional do custo de sua operação. Conseguem ainda economizar em operações mais simples como compra de material de escritório e na montagem dos complexos sistemas de tecnologia da informação.

“Esse processo não é exclusividade dos bancos brasileiros nem do sistema financeiro. Para serem mais competitivos muitos setores passaram por grande concentração como telefonia transporte aéreo indústria farmacêutica“ enumera o presidente da Austin Rating Erivelton Rodrigues. “é um ciclo que se autoalimenta. Maiores os bancos têm mais fôlego para comprar outros ou crescer organicamente.“

A concentração bancária costuma ser observada pelos ativos – que são os créditos direitos bens e valores a receber que o banco detém. Por essa característica a participação dos cinco grandes bancos passou de 456% em 2000 para 649% em junho de 2010. Em ritmo semelhante as operações de crédito desse grupo saltaram de 492% para 655% de todo o sistema financeiro no mesmo período.

Anos 90. O professor de finanças da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) José Pereira da Silva afirma que essa concentração é resultado de um movimento amplo iniciado há quase duas décadas. Em meados dos anos 90 após a criação do Plano Real o governo decidiu reestruturar e fortalecer o sistema financeiro com ajuda dos recursos públicos para impedir que a economia se contaminasse com eventual debilidade dos bancos. Em meio ao movimento muitos bancos estaduais foram comprados.

No fim dos anos 90 e início dos anos 2000 a segunda fase da consolidação aconteceu com os bancos privados que passaram a comprar casas menores para ganhar força e escala. Mais recentemente houve outra onda que passou a contar também com aquisições de bancos públicos.

“A concentração tem um aspecto positivo que é de dar mais segurança para os clientes já que bancos fortes têm menor risco na operação“ diz Silva. Talvez seja por isso que é exatamente nesse tema que a concentração é mais evidente: atualmente 75% de todos os depósitos do sistema financeiro estão nos cinco maiores bancos. Há dez anos essa fatia era de 525%. Durante a crise grandes bancos em especial os públicos receberam volumes expressivos de depósitos.

Mas a concentração tem um aspecto negativo para os clientes que é a diminuição da concorrência. Com menos casas no mercado a iniciativa de reduzir juros e taxas ou melhorar serviços pode ser menos urgente que em um cenário com muitas instituições e pulverizado. “é mais difícil concorrer quando você tem cinco ou seis bancos grandes. Mas isso não quer dizer não haja nenhuma concorrência“ diz Silva. Nos últimos dois anos instituições públicas incentivaram a maior concorrência com a oferta de crédito com taxas menores.

Futuro. Mesmo com a concentração crescente analistas descartam o fim do processo de consolidação. “Não diria que chegamos a um teto. Até porque durante a crise de 2008 bancos públicos desempenharam um papel importante e ganharam mercado. Os privados vão reagir para tentar recuperar o espaço“ prevê Rodrigues da Austin Rating.

Uma das possibilidades que já está em curso é a união das instituições financeiras para tentar reduzir custos. Concorrentes como BB Bradesco Santander e Caixa preparam o compartilhamento dos caixas eletrônicos e novas parcerias em áreas como cartões de crédito. Apesar desse movimento Rodrigues observa que ainda há espaço para bancos de menor porte. “Eles se especializam em nichos como crédito consignado financiamento de veículos ou pequenas e médias empresas“ afirma.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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