No mês passado as taxas bancárias voltaram a se aproximar do patamar próximo aos níveis de setembro anterior à crise conforme pesquisa da Anefac. Assim os bancos devolveram parte da elevação de cerca de 4 pontos percentuais feita entre outubro e dezembro do ano passado por conta das incertezas geradas pelas turbulências internacionais.

No fim de outubro no entanto o Copom encerrou o último ciclo de alta da política monetária e a partir de janeiro deu início a uma nova distensão da Selic que já acumula 25 pontos percentuais de queda.

Além disso em relação a outubro as taxas do mercado de juros futuros que servem de piso para as taxas bancários já foram reduzidas em quase 4 pontos percentuais até o fim de fevereiro. As taxas futuras indicam as expectativas dos agentes de mercado com relação ao comportamento dos juros e são usadas como base para a definição das operações de crédito de acordo com o prazo dos contratos.

O crédito bancário portanto ainda está acima do piso mínimo praticado no mercado futuro. Parte dessa diferença foi incorporada no spread – diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada dos clientes – que permanece elevado.

Muitos bancos divulgaram queda de taxas para algumas linhas logo após o anúncio do Copom. Mas segundo a corretora Link em relatório para clientes apesar da redução nos juros anunciadas pelos bancos os spreads se mantêm elevados uma vez que os bancos estão “apenas repassando” a redução do custo de captação. “A perspectiva de piora na qualidade do crédito (com aumento da inadimplência) nos próximos meses leva os bancos a manter esses níveis altos de spread” diz o texto.

A corretora destaca ainda que os bancos estatais especialmente a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil “vêm sofrendo maior pressão do governo para efetuar cortes maiores o que penalizaria sua rentabilidade”.

As linhas que estão mais defasadas são as destinadas às empresas médias e pequenas que pagam juros prefixados. Em média entre setembro e janeiro houve elevação de 38 pontos percentuais nos juros que subiram para 4319% ao ano. A conta garantida por exemplo espécie de cheque especial de que se valem as empresas em momentos de aperto teve alta de 706 pontos para 8053% ao ano maior patamar desde julho de 2003.

Para pessoas físicas as reduções foram relativamente mais aceleradas até por conta de um spread maior que garante maior margem de manobra. A taxa média subiu 207 pontos para 5514% ao ano entre setembro e janeiro.

Por conta disso as financeiras avaliam que as reduções de juros já começam a chegar à ponta do crédito e devem se reverter em uma maior oferta de linhas. “Essa queda de 15 ponto percentual levando a taxa Selic ao nível de setembro de 2007 vai beneficiar o consumidor que terá crédito em maior volume e com juros menores uma vez que as instituições financeiras já estão anunciando a queda dos juros para seu diversos produtos” afirmou em nota Adalberto Savioli presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito Financiamento e Investimento (Acrefi).

Mas Savioli acredita que o gradualismo seja o melhor caminho para a queda da Selic. “As taxas de juros devem cair de uma forma gradual e mais moderada nas próximas reuniões devendo chegar a um dígito no final do segundo semestre do ano.”

As taxas devem cair mas os spreads podem continuar altos avalia Andre Modenesi professor do Ibmec-RJ e pesquisador do Ipea. Segundo ele o fato de o Brasil ter uma das maiores taxas básicas do mundo é um fator determinante para os elevados níveis dos spreads.

Modenesi explica que apesar de existirem fatores micro que explicam essa margem – como inadimplência impostos e o compulsório – não se pode desprezar o peso que um título público com taxas bastante altas tem na hora de se avaliar os custos de oportunidade de um banco.

Segundo ele o banco pode decidir entre fazer uma operação de empréstimo que é arriscada de médio a longo prazo e que demanda estudos do credor e avaliações periódicas ou simplesmente comprar uma LFT mais líquida altamente rentável e sem risco de crédito. Assim quanto mais alta a taxa menor a atratividade dos empréstimos bancários.

Além disso completa o spread é uma forma de controlar a liberação dos recursos. “O banco diz: “Posso emprestar mas vou aumentar a margem”. Acho natural que spread cresça nesse período. Os bancos estão relutantes em emprestar e a forma que o banco tem para racionar é aumentar o preço cobrar mais caro o empréstimo.”
Fonte: Valor Econômico

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