No fim de abril brasileiros usavam R$ 1805 bilhões do limite oferecido pelas instituições financeiras no maior valor da história. Pior que estar devendo é pagar por esse crédito. Mesmo com Selic em queda pouca coisa mudou no juro do cheque especial. Nos maiores bancos a taxa segue acima de 150% ao ano.

Esse é o crédito mais fácil de usar. Sempre disponível o dinheiro está na conta prontinho. Pode ser em um saque no meio da noite ou em um pagamento no débito e o empréstimo começa a valer sem a assinatura de papéis ou a presença do gerente. Tanta facilidade tem um preço.

Entre todas as linhas de crédito acompanhadas pelo Banco Central o cheque tem o maior spread que é a diferença entre o juro que o banco paga para quem aplica e quanto cobra de quem toma esse dinheiro emprestado. Em abril o spread estava em 1563 pontos porcentuais. Na média de todos os financiamentos para famílias e empresas a margem é bem menor: 282 pontos.

Na prática isso quer dizer que um cliente que aplica R$ 100 no banco tem R$ 11003 no fim de 12 meses. Na mão da instituição esses R$ 100 são usados para cobrir o cheque especial de outro consumidor que ao fim do mesmo período tem de pagar R$ 26630. A diferença entre o que um paga e o que o outro recebe – de R$ 15627 – é embolsada pelo banco.

Nas instituições financeiras a explicação para tamanha margem é o tripé inadimplência impostos e compulsório. Estudos do BC no entanto têm mostrado que o terceiro fator pesa cada vez menos e nem por isso as instituições reduziram as margens. Uma das constatações da autoridade monetária é que a despeito das diversas medidas que liberaram mais de R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios desde o agravamento da crise em setembro de 2008 o spread reagiu muito pouco.

Desde janeiro quando o Banco Central começou o ranking de juros a Selic caiu 45 postos porcentuais o equivalente a uma redução proporcional de 327%. Mas a pesquisa diária mostra que o ritmo de corte no cheque especial é muito mais lento.

Caixa Econômica Federal e Santander são os que fizeram as maiores reduções proporcionais e hoje praticam respectivamente taxas 137% e 136% menores que as de janeiro. No Bradesco a taxa recuou apenas 31% na comparação com o início da pesquisa. No Banco do Brasil queda de 18% e no Itaú praticamente estabilidade com leve recuo de 05%.

Apesar de ser um dos que mais reduziu o juro o Santander segue com o cheque mais caro entre as cinco instituições de 1819% conforme pesquisa feita entre 1º e 5 de junho. A taxa é ponderada conforme o volume de operações e indica que clientes podem conforme o perfil pagar mais ou menos.

Em seguida Bradesco cobra 1688% de quem usa o limite e o Itaú 1676%. O federal Banco do Brasil tem taxa um pouco menor de 1501%.

Nesse grupo a Caixa é a mais “barata“ com 1033%. Para lembrar: a Selic está em 925% ao ano. “Estruturalmente o cheque especial precisa ser mais caro que outras linhas porque é um dinheiro que o banco não pode usar para nada ele deixa de aplicar em outras operações para deixar disponível“ explica o professor de finanças do Insper antigo Ibmec São Paulo Ricardo José de Almeida.

Além do custo do dinheiro que fica disponível bancos também cobram caro porque o uso do cheque indica algum tipo de descontrole o que embute maior risco de inadimplência. “Para o banco esse cliente é mais arriscado que aquele que se planeja e vai à agência para pegar um empréstimo consignado“.

Apesar de entender a estrutura da operação Almeida critica duramente o comportamento dos bancos que não tentam oferecer produtos mais baratos. Para o professor as instituições deveriam fazer com que os clientes que mensalmente entram no vermelho trocassem essa dívida pelo consignado ou o crédito pessoal. “Os bancos teriam um ganho menor no curto prazo mas teriam a certeza de que esse cliente seria mais saudável e confiável financeiramente“.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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