O ritmo mais forte de emissões de DPGE observado a partir de dezembro do ano passado decorre de uma combinação de fatores. O fim anunciado da modalidade o cenário restritivo para cessões de carteiras de crédito e até mesmo o custo da linha – normalmente considerado caro mas que tem saído mais barato comparado a outras alternativas – vem contribuindo para impulsionar as ofertas.

A perspectiva é de expansão nos próximos meses muito em função do cronograma de redução gradual das emissões estabelecido pelo governo em dezembro de 2010. O DPGE que conta com a cobertura de até R$ 20 milhões do FGC por investidor foi criado em 2009 para dar aos bancos médios uma fonte alternativa de captação em meio à escassez de recursos que se seguiu à crise financeira deflagrada em 2008. Os bancos podem emitir um volume de até duas vezes o patrimônio de referência (ou depósitos). Agora o limite para captação será reduzido em 20% ao ano a partir de 2012 até a extinção desse tipo de “funding“ em 2016.

“Faz sentido tomar todo o limite já que vai haver retração“ diz Paulo Henrique Pentagna Guimarães presidente do Bonsucesso. “Nós vamos tomar e aqueles [bancos] que tiverem uma política inteligente também.“ O Bonsucesso especializado na oferta de crédito consignado já emitiu R$ 700 milhões em DPGEs. Seu limite de R$ 950 milhões permite captar ainda este ano mais R$ 250 milhões. Em 2012 como o teto cai para R$ 760 milhões o espaço que sobra é de apenas R$ 60 milhões.

Menos alavancado que seus pares o Paraná Banco também especializado na concessão de crédito consignado usou muito pouco seu limite de R$ 15 bilhão. Emitiu apenas R$ 927 milhões em DPGEs ainda em 2009 quando o título foi criado. Mas apesar de estar com o caixa confortável (R$ 500 milhões) não desconsidera a alternativa do DPGE. “Estamos conseguindo nos financiar via CDB mas pode ser que utilizemos sim DPGE“ afirma Mauricio Fanganiello gerente de RI.

O mercado de cessão de créditos mais seletivo e caro também explica o movimento. Guimarães do Bonsucesso conta que a carteira de crédito retida pelo banco em seu balanço aumentou 43% entre o quarto trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2011 de R$ 1195 bilhão para R$ 1705 bilhão. O Paraná Banco não faz cessão pois considera oneroso esse tipo de captação.

“Depois de PanAmericano Schahin e Morada o mercado de cessão ficou bem mais seletivo e caro“ afirma Pedro Gomes diretor da área de bancos da agência de classificação de risco Fitch. Segundo ele o custo da cessão está hoje em 103% do CDI na média – fora os gastos administrativos e com inadimplência. No início do ano estava ainda mais caro em torno de 104% e 105% do CDI. “Além disso bancos como Santander e Itaú reduziram os limites de compra. Alguns estrangeiros como Credit Suisse e ABC Brasil nem voltaram a comprar.“

Não é só a cessão de carteira que ficou mais cara. O preço das captações externas também está salgado. Guimarães do Bonsucesso fez uma sondagem em abril com investidores de Portugal Suíça Inglaterra e Estados Unidos mas acabou desistindo da ideia de captar US$ 250 milhões. “Estavam pedindo muita taxa de juro“ diz.

O BicBanco que não havia feito emissão de DPGE até o terceiro trimestre do ano passado resolveu aderir à modalidade. No fim de março apresentava saldo de R$ 1044 bilhão equivalente a 136% do total de depósitos a prazo. O vice-presidente Milto Bardini explica que objetivo principal da instituição é alongar seu passivo – o DPGE tem vencimento mínimo de dois anos. Para efeito de comparação o prazo médio dos CDBs do BicBanco é de 427 dias enquanto o vencimento médio dos DPGEs é de 999 dias.

“Mesmo com esse foco específico a alternativa do DPGE é interessante quando comparada a uma captação externa“ ressalta Bardini. O que mais tem encarecido as captações externas é o custo do “hedge“ proteção que os bancos fazem no mercado de derivativos para anular os efeitos da variação cambial. Segundo Bardini a diferença do custo total de uma captação externa em relação ao de uma emissão de DPGE hoje está na ordem de 10% do CDI. “Queremos fazer concorrência entre o DPGE e a captação externa em dólar.“

O aumento da Selic tem contribuído para diluir o custo dos bancos com a contratação da garantia do FGC – os bancos têm de recolher ao fundo 1% do valor emitido em DPGE. No segundo semestre de 2009 por exemplo quando a taxa básica de juro estava em 875% ao ano o custo total da captação girava em torno de 114% do CDI. Com a Selic em 1225% ao ano esse custo cai para algo como 108% do CDI.

O diretor da área de bancos da agência Fitch alerta porém para o risco de uma corrida dos bancos pelo DPGE. “A ideia é que ele seja uma linha de contingência“ diz Gomes. “Se o banco tiver usado todo o limite durante um momento de estresse pode ficar com a liquidez pressionada.“

O BicBanco focado na concessão de empréstimos a médias empresas usou 20% de seu limite de R$ 5 bilhões e não pretende ultrapassar 50% da capacidade (de R$ 25 bilhões) no médio prazo. “O DPGE nasceu como um instrumento de liquidez emergencial e consideramos que assim deve continuar“ afirma Bardini.

Mas segundo Gomes da Fitch quem mais tem usado DPGE são bancos pequenos e dependentes de cessão de carteira. “Quanto menor o banco mais tomado em DPGE ele está.“ Antonio Carlos Bueno diretor executivo do FGC acredita que a evolução das emissões de DPGE é pouco expressiva. “O crescimento real do estoque gira em torno de 7% a 8% nos últimos seis meses o que é muito pouco se considerarmos a tímida compra de carteiras que vem ocorrendo nesse período.“

Fonte: Valor Econômico

Diretoria Executiva da CONTEC

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