Bancos públicos se expõem mais ao risco de calote que os concorrentes privados. Dados do Banco Central (BC) mostram que 713% dos empréstimos para as pessoas físicas feitos pelas instituições controladas pelo governo têm risco que equivale a pelo menos atrasos de 15 dias nos pagamentos.

Enquanto isso os bancos privados optam por concentrar operações nos bons pagadores e só 276% dos financiamentos têm o risco mencionado. A pressão do governo para o aumento da oferta de crédito em meio à crise e a ação em nichos de menor renda explica a maior exposição dos bancos públicos dizem analistas.

No setor bancário cada empréstimo é classificado com notas para determinar o risco de calote. Pelas regras do BC a avaliação varia entre AA e H e leva em conta critérios como o grau de endividamento limite de crédito qualidade das garantias valor do financiamento renda e patrimônio do cliente. Isso por exemplo determina se um empréstimo recebe AA – a melhor nota – ou C na concessão do crédito.

Independentemente da avaliação bancos são obrigados a incluir todos os empréstimos com atraso de 15 dias na nota B. A falta de pontualidade no pagamento superior a um mês passa a receber C e quando o atraso no pagamento passa de mais de 90 dias cai para E.

Dessa forma o ideal é que instituições optem pelos empréstimos com as melhores notas aqueles feitos por bons pagadores: clientes com boas condições de pagamento histórico de crédito e garantias. Mas não é necessariamente isso que ocorre nos bancos públicos.

Em novembro a exposição ao risco nas operações entre B e H concentrou quase três quartos dos empréstimos às pessoas físicas feitas pelas instituições controladas pelo governo. Portanto só um quarto tinha nota AA e A.

Enquanto isso a proporção nos bancos privados com capital nacional era exatamente a contrária: quase três quartos dos empréstimos tinham as duas melhores notas e apenas um quarto as piores avaliações.

RAMO IMOBILIáRIO

Situação semelhante é vista no segmento imobiliário. Nos bancos públicos 688% dos financiamentos estão no grupo com risco entre B a H. Nos privados nacionais 722% dos empréstimos têm as melhores notas ou seja AA e A.

“Esse quadro tem reflexos nos balanços. Normalmente bancos públicos têm de fazer provisões maiores para o risco de inadimplência” diz a analista do setor bancário do Banco Banif Lia da Graça. Outro efeito de acordo com ela é observado no lucro. “Bancos públicos tendem a ter menos lucro que os privados.”

A especialista também diz que essa exposição prejudica as ações das instituições. “Na comparação com os grandes concorrentes a ação do Banco do Brasil sempre teve um ‘desconto’. Essa diferença ocorre porque há o risco de o banco público ser usado como instrumento de política econômica” informa.

“Se o governo afirmar que bancos têm de continuar emprestando não há muita escolha para o BB ou a Caixa Econômica Federal” diz Lia.

PAPEL SOCIAL

O professor de finanças da Faculdade de Economia e Administração da USP Ribeirão Preto e diretor-presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad) Alberto Borges Mathias diz que outra explicação é o papel social das instituições públicas. “Esse caráter significa correr mais riscos. E em muitos desses segmentos os bancos privados não atuam” diz.

O BB por exemplo é o líder isolado no crédito rural. Apesar da importância econômica do setor bancos privados têm presença discreta no segmento principalmente pelo risco de quebra de safra. Já a Caixa é líder no segmento imobiliário onde atua em nichos de menor renda que são praticamente inexplorados pelos bancos privados.

Na opinião de Mathias é provável que a exposição a riscos dos bancos públicos cresça nos próximos meses com a atuação mais forte dessas instituições no mercado de crédito desde o agravamento da crise.

Mas ele afirma que o uso de ferramentas de acompanhamento das operações pode impedir que isso se transforme em uma onda de calotes nas instituições públicas.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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