Vendedora de uma empresa de cosméticos M.S. diz que foi isolada por colegas que temiam a competição no trabalho. Passou a receber e-mails com vírus para atrasar e desqualificar seu desempenho. Teve de trabalhar de madrugada para colocar o serviço em dia até ser afastada por doença física e psíquica e também acionou a Justiça por assédio moral.

Advogados relatam que a pressão para melhorar os resultados diante dos efeitos da crise mundial se dissemina e coloca cada vez mais trabalhadores -como o ex-diretor de RH e a vendedora- em situações de possível assédio moral. Em 12 escritórios de advogados consultados pela Folha na última semana aumentou desde outubro o número de ações trabalhistas ou de consultas para abrir processos e pedir indenizações por assédio moral.

A Associação dos Advogados Trabalhistas do Estado de São Paulo (AATSP) estima que os mil profissionais associados ingressaram na Justiça com ao menos uma ação de assédio moral cada um desde que a crise se agravou no final de 2008. Procuradores do Ministério Público do Trabalho em seis Estados (Rio Pernambuco Piauí Ceará Santa Catarina e São Paulo) e no Distrito Federal investigam 145 denúncias recebidas neste ano sobre assédio nos setores aéreo bancário metalúrgico e de comércio.

é considerado assédio moral um conjunto de condutas abusivas frequentes e intencionais que atingem a dignidade da pessoa e que resultam em humilhação e sofrimento. “O assédio moral também chamado de ‘Terror psicológico“ no trabalho é hoje um dos requisitos para aumentar a produtividade nas empresas que precisam ser mais competitivas contra a crise“ diz Luiz Salvador presidente da Abrat (associação brasileira dos advogados do setor).

Com o acirramento da competição o assédio moral tende a crescer intra e entre os grupos nas empresas de diferentes setores -principalmente em segmentos onde a tensão é maior como mercado financeiro e empresas que tiveram o patrimônio reduzido na crise.

“Existe uma crise real e uma imaginária que torna os funcionários mais inseguros e angustiados. Com essa tensão coletiva o clima é de maior disputa. Quem está fora do mercado quer entrar e quem está dentro não quer sair. Os gestores são mais pressionados pressionam os empregados da produção e as situações de assédio vão se alastrando“ diz o pesquisador Roberto Heloani professor da FGV e da Unicamp.

O número de consultas ao site (www.assediomoral.org.br) cresceu cerca de 20% desde que a crise se agravou em outubro afirma Heloani coordenador do site. Em alguns escritórios paulistas a demanda por essas informações subiu em 30% nos últimos dois meses.

O assédio que se espalha do alto escalão à produção atinge trabalhadores de todas as rendas. Um alto executivo americano que veio ao Brasil comandar grupo de assuntos estratégicos de um banco por quase R$ 60 mil mensais já recorreu à Justiça por assédio. Com a crise sua função foi extinta. Ele foi deixado em casa até o banco romper seu contrato antes do prazo previsto e sem pagar a devida indenização.

Cobrar metas faz parte do dia a dia de qualquer empresa. O problema dizem os especialistas é a forma dessa cobrança. Se houver humilhação e ameaça está caracterizado o assédio. “A imposição de metas para alcançar maior produtividade não implica qualquer violação aos direitos do empregado. Ao contrário já que podem servir como motivação para alcançar bônus ou prêmio. Mas as metas não podem ser absurdas nem abusivas“ diz Otavio Brito Lopes procurador-geral do Trabalho.

Não há legislação federal específica para o assédio moral no Brasil. Por isso parte dos advogados crê que em épocas de crise o assédio pode ser “usado“ pelos trabalhadores para pleitearem indenizações. “Há pedidos absurdos relativos a assédio moral e com valores desproporcionais. Essa situação é fruto da angústia e desespero dos trabalhadores quando são demitidos. Com isso demandas verdadeiras de assédio moral ficam sujeitas à ideia de também serem despropositadas“ diz o advogado Guilherme Miguel Gantus.

Fonte: Folha de S.Paulo

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