‘Funcionário de carreira do Banco Central o presidente da Nossa Caixa Milton Luiz de Melo Santos deixa amanhã o banco paulista que passa para o comando do Banco do Brasil. Em dois anos Santos levou um banco “coadjuvante“ em São Paulo atrasado no crédito com equipe desmotivada e tecnologia defasada a despertar a cobiça do Banco do Brasil em ter a maior rede bancária no Estado. Santos disse que o maior desafio foi oferecer serviços de qualidade com a compra da folha do Estado para reter os servidores vindos do Santander. Apesar de trabalhar em banco público afirma que não vê sentido em o Estado ter instituição de varejo. Ele defende a presença na área de fomento como o BNDES e diz que “é um equívoco“ o BB adquirir bancos privados. Santos cumprirá uma quarentena antes de assumir possivelmente o comando da nova agência de fomento do Estado -ele não confirma nem nega a indicação.

FOLHA – Como era o banco que o sr. pegou há dois anos?
MILTON SANTOS – Recebi um banco que passou por uma mudança muito grande quando abriu o capital em 2005. Ao ingressar nas novas regras do mercado a Nossa Caixa adquiriu profissionalismo e competência extraordinários. Ela era uma espécie de coadjuvante nas finanças do Estado -o banco principal era o Banespa. O governador José Serra tinha o propósito de vender a folha de pagamentos do Estado tal como fez quando estava no município de São Paulo. Como o município não tinha banco teve de fazer licitação. Como o governo tinha a Nossa Caixa consultou o banco para ver se havia interesse. Quando realizamos o investimento procuramos fazer um trabalho comercial muito forte para que esses clientes que antes recebiam o salário no Santander trabalhassem com a Nossa Caixa. O Santander contra-atacou procurou reter esses clientes oferecendo mimos e uma série de benefícios.

FOLHA – Quais são as limitações para concorrer com o Santander?
SANTOS – Temos de seguir uma série de preceitos legais estabelecidos na lei de licitações ou de concursos públicos. O Santander abre uma agência aqui na rua em dez dias; eu levo quatro meses. O Santander vai ao mercado e recruta o melhor gerente pagando bônus. Eu tenho de fazer concurso.

FOLHA – Como vocês conseguiram?
SANTOS – O desafio foi modernizar o banco e trazer o máximo de inovações tecnológicas para que pudesse melhorar o atendimento e ter imagem de competência e de segurança. Resolvemos desligar 2.000 funcionários que tinham salários muito altos. Isso é um tabu na administração pública. Contratamos 1.300 com concurso entrando com salário inicial. Desligamos aquelas pessoas que não tinham desempenho adequado como qualquer outra empresa faz com o objetivo de melhorar a eficiência como prestador de serviço. Tivemos reuniões com o sindicato dissemos que não tinha perseguição a ninguém. Estabelecemos metas de realização de operações de crédito venda de produtos e cobramos a ponto de o sindicato dizer que estávamos cometendo assédio moral. Também procuramos melhorar a avaliação de mérito.

FOLHA – Para os funcionários como foi conviver com a venda ao BB?
SANTOS – O ambiente da venda do banco cria um pouco de incerteza insegurança é um desestímulo. é difícil fazer com que as pessoas se abstraiam dessa situação e foquem no negócio. Queria mostrar [ao funcionário] que quanto melhor o seu desempenho na agência melhor seria o cacife para se colocar no BB. Com os diretores fizemos o mesmo porque era óbvio que seriam os primeiros a perder o cargo. Primeiro negociamos com o BB a permanência de quatro diretores. Pedi ao secretário da Fazenda [Mauro Ricardo Costa] que desse uma sinalização de que as pessoas não ficariam desamparadas. Até para que pudessem ficar comigo até o final senão corria o risco de ficar sozinho aqui.

FOLHA – é possível atender bem ao acionista minoritário que é privado e ao Estado e seu interesse público?
SANTOS – Nós temos feito isso deixando claro que o banco vai fazer operações em condições de mercado. Como o governo tem interesse em beneficiar determinados segmentos entra com recursos do Orçamento e subsidia os juros. O governo paga o subsídio dentro do seu arcabouço legal de indutor de desenvolvimento.

FOLHA – Há uma papel específico desempenhado pelo banco público?
SANTOS – Não vejo como o poder público possa ter banco de varejo. A iniciativa privada pode prover bem esse serviço melhor do que uma empresa pública que tem suas amarras. Vejo com mais sentido a atividade de uma instituição ligada ao desenvolvimento como o BNDES. Ela tem um papel muito claro associado a estratégias do governo de desenvolver regiões mais carentes.

FOLHA – Qual desafio o BB terá pela frente com a Nossa Caixa?
SANTOS – O BB está sendo empurrado [para aquisições] porque se não fizer vai perdendo participação. Para se manter nesse mercado vai ter de buscar alternativas -primeiro pelos bancos estaduais. Tem também aquela medida provisória que permite a compra de bancos privados. Como economista acho que é um equívoco. Você está ampliando a participação do Estado em atividade de natureza privada. Também é difícil explicar por que comprou participação no banco A e não no B ou C. Por que foi esse o preço e não aquele. Não queria estar na pele [deles]. Acho que não é esse o caminho mas respeito a posição que eles têm.
Fonte: Folha de S.Paulo

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.