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Não temos interesses nos ativos dos players com os quais estamos negociando. Alguns estão oferecendo a rede física. O BB compraria apenas a carcaça a infraestrutura dos bancos informou o presidente do banco Aldemir Bendine em entrevista exclusiva ao Valor. Se a operação de compra for consumada o banco alvo da cobiça do BB disse ele sairá a preço de banana. Por causa das restrições legais tanto do mercado acionário brasileiro quanto do americano onde ações do BB são negociadas Bendine não revelou o nome da instituição com a qual está negociando.
Essa não é a única opção do Banco do Brasil nos EUA. No início de 2008 o banco pediu autorização ao Fed para abrir um banco de varejo no mercado americano e uma empresa de remessas de valores. Até o momento saiu apenas a autorização para a criação da subsidiária de remessas – a BB Money Transfers que funciona desde junho deste ano. Para entrar de forma competitiva num segmento que é bastante pulverizado o Banco do Brasil contratou correspondentes bancários e adotou o sistema POS (as maquininhas de cartões de crédito) para fazer as transferências em tempo real diretamente para as contas dos beneficiários das remessas no Brasil.
Por causa da crise mundial o Fed tem concentrado esforços para forçar o saneamento dos bancos americanos onde se originou a crise com créditos subprime evitando a entrada de novos participantes no mercado americano. Também em função da crise o BB teve que revisar seu plano de negócios. Se o pedido for aprovado o banco abrirá seis agências em cinco Estados: Nova Jersey Nova York Flórida Massachusetts e Connecticut.
Além disso o BB planeja estender o número de correspondentes bancários para alcançar o maior número possível de residentes brasileiros nos EUA e fechar convênios com bancos americanos para captar depósitos. O que estamos começando a aprender é que não basta ter uma agência e achar que com isso vamos alcançar os brasileiros que estão lá fora. A ideia portanto é além de ter a nossa própria rede de agências estender o modelo de correspondente bancário e até fazer parcerias com bancos locais para pelo menos colher depósitos. Para sacar não há problema porque há terminais de ATM em todo o território americano e a rede é integrada explicou Bendine.
O avanço da rede de varejo no exterior faz parte de um agressivo plano de internacionalização do BB. A estratégia segundo Bendine é expandir os negócios lá fora a partir de três vetores: a existência de comunidades de brasileiros no exterior a transnacionalização de grandes companhias e a expansão das relações comerciais do país com o mundo. Onde houver uma dessas condições o BB fincará a sua bandeira.
O mercado americano reúne as três características e por isso será prioritário no plano de expansão. O BB já é o banco brasileiro com maior presença internacional. Está em 23 países com 44 dependências entre agências e escritórios de representação.
A experiência de varejo mais exitosa é a do Japão onde vivem cerca de 350 mil brasileiros. De olho nessa comunidade o banco investiu no segmento de varejo nos anos 90 conquistando 150 mil clientes. A principal característica do cliente brasileiro no exterior é fazer poupança. O grande sonho dele na realidade é voltar para o país com uma condição econômico-financeira melhor para tocar o resto da vida aqui disse Bendine.
Agora o BB quer replicar em outros locais a experiência japonesa. Nos EUA estima-se que vivam cerca de 14 milhão de brasileiros. A segunda maior comunidade está no Paraguai com 450 mil pessoas. A terceira no Japão e a quarta em Portugal com 220 mil imigrantes brasileiros. Há ainda comunidades representativas disse Bendine na Espanha e na Itália.
O segundo vetor do plano de internacionalização do BB é a criação acelerada de multinacionais brasileiras. Há hoje 184 grandes grupos econômicos brasileiros clientes do BB com presença global informou o presidente do banco. Na Argentina por exemplo a presença de empresas brasileiras é significativa: há mais de 200 companhias com cerca de 160 mil funcionários.
O BB aprendeu a dar suporte a empresas lá fora quando nos anos 80 e 90 ocorreu um boom de construção em países da áfrica e do Oriente Médio. Grandes empreiteiras brasileiras atuaram naqueles mercados e o BB deu suporte a elas. Com a internacionalização as empresas que já mantêm relacionamento comercial com o Banco no Brasil passaram a demandar serviços financeiros no exterior.
O que elas nos falam é: vocês entendem o nosso DNA sabem como a nossa empresa funciona conhecem a nossa governança e a nossa estrutura de capital. Para trabalhar com um banco estrangeiro lá fora leva um tempo para ele entender o que eu sou para estabelecer uma relacionamento com um grau de confiança para me dar suporte financeiro disse Bendine.
Por causa disso as multinacionais querem que o BB ofereça financiamento no exterior em moeda local além de um sistema de pagamentos para seus funcionários. Muitas vezes é difícil fazer uma operação porque é preciso fazer remessas de um lado para o outro e isso tem uma ineficiência de capital muito grande ponderou o presidente do BB. Outra demanda diz respeito ao fato de os bancos brasileiros conhecerem as necessidades a cultura das empresas nacionais. O banco funciona como um assessor financeiro de seus clientes.
Isso começou a nos mover e nos fazer procurar ver onde há volume e escala suficientes para podermos entrar assinalou Bendine. Um exemplo mencionado por ele é o do JBS o maior processador de carne do mundo. A empresa é praticamente a maior no mercado americano e está presente na Argentina na Inglaterra e na Austrália.
O terceiro vetor é o comércio exterior. A balança comercial brasileira tinha um volume muito tímido e uma concentração geográfica grande. O Brasil exportava principalmente para os EUA a América do Sul e a Europa. Nos últimos anos o país diversificou seus parceiros comerciais e os fluxos cresceram de forma exponencial. Hoje o mercado asiático que antes era residual é um dos maiores e mesmo o africano cresceu de forma expressiva. Isto criou na avaliação do BB boas oportunidades de negócios.
O BB está interessado nos fluxos comerciais porque via de regra o banco é quem dá suporte ao exportador. Aqui é que eu consigo gerar melhor as linhas e o meu funding para apoiar o financiamento de comércio exterior observou Bendine. Passamos a analisar os locais onde há uma boa margem de rentabilidade nesses mercados.
A negociação de compra do Banco Patagônia por exemplo está nesse contexto. Bendine se recusou a falar sobre a negociação mas confirmou que a Argentina é uma das prioridades do plano de expansão do BB. O Banco Patagônia embora em termos de ativos seja pequeno para as dimensões do mercado brasileiro tem 180 agências. Entrar na Argentina é uma boa oportunidade de negócio disse o presidente do Banco do Brasil.
O índice de penetração de produtos e a rentabilização de clientes no varejo nesses países é baixa em comparação com o que temos no Brasil porque a tecnologia bancária brasileira é muito superior disse Bendine. A capacidade de gerar pacotes de serviços e de produtos para os clientes é muito esparsa no mundo acrescentou ele explicando que em geral no exterior o mercado financeiro trabalha de forma muito segmentada. A indústria bancária brasileira é mais eficiente no sentido de oferecer um pacote amplo de serviços.
Na América Latina além da Argentina o plano é comprar bancos – ou pedir autorização para montar uma estrutura orgânica – no Peru na Colômbia no Paraguai e no Uruguai. Estamos prospectando negócios em todos os países mencionados disse o presidente do Banco do Brasil.
Na Europa a estratégia é criar o BB Viena e a partir dele integrar as agências já existentes criando uma rede de varejo com escala para oferecer produtos e serviços aos brasileiros que residem naquele continente. Na áfrica a meta é ter agências em Angola e Moçambique que têm o Brasil hoje como importante parceiro comercial.
O presidente do Banco do Brasil assegurou que os planos ambiciosos não exigirão uma necessidade de capital tão grande na largada. Ele disse que sem dúvidas o banco vai se capitalizar mais adiante mas ele se recusou a dar prazos. O que não queremos e percebo uma ansiedade do mercado quanto a isso é fixar prazos. Não temos prazo fixado. Ponto.
Fonte: Valor Econômico
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